domingo, 6 de fevereiro de 2011

POLUIÇÃO DOS MARES - UMA PARTE MENOS EVIDENTE DA DESTRUIÇÃO DO PLANETA PELA ATIVIDADE HUMANA

Foto: epubblica.it
Praia repleta de lixo plástico após um dia de ressaca
Entre outros produtos criados pelo homem, o plástico que é encontrado em lugares pouco comuns, faz parte da revolução do mundo moderno. Mas, apesar desse aspecto, quando ele é constituído por material polimérico-sintético, que não se biodegrada, seus pedaços apenas se desintegram em pequenos fragmentos, que conservam os polímeros (compostos químicos que contêm elementos tóxicos) em proporção relativa e quantidade absoluta que, por sua vez, contaminam o meio-ambiente.

Talvez, essa informação seja nova, mas todos nós sabemos que grandes quantidades de resíduos, provenientes de centros urbanos, chegam aos oceanos diariamente. Para constatar essa informação, basta caminhar por uma praia após um dia de ressaca e observar o lixo acumulado na areia. No entanto, quando os resíduos não são expelidos pelo mar, eles bóiam de acordo com as correntes marítimas, se aglomeram e formam uma enorme camada flutuante, principalmente de plástico, que funciona como uma esponja que concentra grande quantidade de Poluentes Orgânicos Persistentes de (POPs), caso da Grande Mancha de Lixo do Pacífico Norte que interfere no ecossistema, pois qualquer peixe ou animal marinho que se alimenta na região, ingere altos índices de toxinas que, de forma direta ou indireta, também acabam sendo introduzidos na cadeia alimentar humana.
Aglomerado de lixo visto de dentro do oceano

A grande concentração de lixo no Pacifico Norte

Em 1997, após participar da Transpacific Yacht Race (regata entre Los Angeles e Havaí), ao retornar para o sul da Califórnia por uma área pouco navegável, onde faltam ventos e correntes marítimas, o oceanógrafo Charles J. Moore e sua tripulação confirmaram a existência de uma Grande Mancha de Lixo no Pacífico, já prevista em 1988 pelo órgão norte-americano National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), a partir dos resultados obtidos por pesquisadores que, entre 1985 e 1988, mediram os neustônicoplasticos (agregações não-organismal flutuante) existentes no oceano. Embora Moore tenha avistado um grande campo de destroços, formado por pedaços de redes, garrafas, tampas, bolas, bonecas, patos de borracha, tênis, isqueiros, sacolas plásticas, caiaques, malas e demais tipos de plástico, em diferentes estados de conservação, o problema é bem maior, porque o lixão marítimo é constituído, principalmente, por partículas não visíveis a olho nu, que também não podem ser captadas por fotografias de satélite. Pesquisadores estimam que cerca de 80% desse sopão é resultante de aterros sanitários e de despejos de resíduos, realizados por países banhados pelo mar. Já os 20% restantes provêm de navios comerciais.

Todo esse material que flutua à deriva entre a Califórnia (EUA) e o Japão, alcança um ponto próximo ao noroeste da Austrália, região do chamado Giro do Pacífico Norte, onde se dá a convergência de quatro grandes correntes marítimas de movimento lento, que atrai e possibilita o acúmulo de plástico que, aos poucos, devido à ação do sol e dos ventos, se desintegra em pequenos fragmentos que, por sua vez, permanecem flutuando, numa espécie de redemoinho condensado de tamanho indeterminado, mas de grande proporção, que já chegou a ser comparado ao dobro do território norte-americano do Texas.

Cerca de 80% desse sopão é resultante de aterros sanitários e de despejos de resíduos, realizados por países banhados pelo mar.
Pássaro marinho tenta se alimentar de uma garrafa plástica
Foto: Wikimedia Commons / sfcitizen.com
Com pouco fitoplâncton disponível, animais marinhos ingerem pedaços de plástico e se intoxicam

 Interferência do sopão no ecossistema

Como a Grande Mancha de Lixo do Pacifico Norte
vem se formando desde que o plástico passou a ser
utilizado pelo homem, pedaços do material que
ainda não se desintegraram, se concentram na
coluna de água superior, enquanto pequenos
fragmentos e minúsculas partículas ficam,
parcialmente, submergidos na base do
redemoinho de resíduos.
Esse amontoado de lixo atrai peixes, aves e
animais marinhos que acabam se alimentando
de uma boa concentração de polímeros porque,
segundo estudos realizados por diversos
pesquisadores, incluindo o próprio Moore, há
seis vezes mais plástico nessa parte do oceano
do que fitoplâncton, que é a base da cadeia
alimentar marinha. Em consequência, pelo
menos 267 espécies marinhas que habitam o
Giro do Pacífico Norte são afetadas de um
modo ou outro pelos detritos plásticos.

Esse fato já foi averiguado e comprovado
por pesquisadores do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente que, ainda
concluíram que o impacto devastador da ação
humana sobre os oceanos é responsável pela
morte de mais de um milhão de aves marinhas,
sem contar tartarugas, tubarões e centenas de
espécies de peixes que, ao ingerirem resíduos
plásticos, quando não se sufocam com os
maiores pedaços, passam a sofrer de
perturbações hormonais, orgânicas e até
estruturais.
Diante desse quadro, considerando que os
vestígios deixados pelos homens sempre
revelaram a história da Humanidade, fica
uma pergunta que visa à reflexão:
o que será contado sobre nós daqui a 
alguns séculos?

Foto: green-living.families.com
O rejeito colorido custa muito a degradar

Foto: NOAA
Pesquisadores retirando resíduos plásticos do Atlântico Norte, ao largo da costa leste norte-americana

Já que o problema persiste...


Na última conferência Ocean Sciences
Meeting, realizada em novembro de 2010,
em Portland (EUA), foi apresentada outra
“ilha” de lixo que cresce em pleno Atlântico
Norte, numa extensa zona localizada entre a
costa leste da Flórida e as Bermudas.
Sua existência também já era conhecida
desde a década de 1980, mas pesquisadores
do Sea Education Association, do Woods
Hole Oceanographic Institution e da
Universidade do Havaí, em Honolulu,
aproveitaram a ocasião para anunciar o
montante da recolha, feita em redes puxadas
e por meio da coleta de resíduos plásticos
que flutuam à superfície do mar, junto a
organismos marinhos.
As amostras que foram colhidas entre 1986
e 2008, por mais de sete mil estudantes
universitários, em 6.136
localidades no Mar do  Caribe e Atlântico
Norte, ao largo da costa leste norte-americana,
evidenciam que a grande maioria dos restos
de plástico, que não tem mais de um centímetro
de dimensão, se origina de embalagens
destinadas aos consumidores.

Foto: NOAA
Pequena formação de corais envolvia por saco plástico
Embora sua densidade seja calculada em
mais de 200 mil fragmentos de detritos
por quilômetro quadrado, tal como a "ilha"
de lixo do Pacifico Norte, o sopão plástico
do Atlântico Norte não tem um tamanho
determinado, principalmente, porque os
resíduos que contêm altas concentrações
de POPs acompanham as correntes e udam
de fuso em até 1.600 quilômetros em direção
norte e, de forma sazonal, em direção sul,
durante o fenômeno do El Niño (nome dado
a alterações significativas de curta duração
- 12 a 18 meses - na distribuição da temperatura
da superfície da água do Oceano Atlântico
que provoca profundos efeitos no clima),
interferindo de maneira ainda desconhecida
no ecossistema da região.
No entanto, ao contrário da “ilha” de lixo
do Pacifico Norte que sempre se destacou na
mídia, o sopão plástico do Atlântico Norte, até
então, vinha sido ignorado.
Entretanto, segundo estudos do NOAA, que
foram realizados entre janeiro e fevereiro de
2010, o giro do Atlântico Norte mantém uma
concentração de lixo que é capaz de produzir
poluição marinha em padrão e quantidade
similar a que foi encontrada na Grande Mancha
de Lixo do Pacifico Norte.

Sobre a designação “ilha” de lixo
Considerando que há cinco grandes giros
subtropicais nos oceanos Pacífico Norte,
Pacífico Sul, Atlântico Norte, Atlântico Sul
e Índico, é quase certo que novas  zonas de
acúmulo de resíduos plástico surgirão nos
próximos anos, tanto que já foi constatado
que há indícios de uma nova formação no
Oceano Indico.
Contudo, chamar tais concentrações de lixo
plástico de “ilha”, não é a forma mais correta
de se referir ao evento.
Essa designação foi cunhada apenas para chamar
a atenção da grande massa. As manchas de lixo
deveriam ser nomeadas de sopão plástico porque,
na verdade, os resíduos não se condensam; eles
somente se fragmentam e se acumulam, devido
à atração exercida pelos giros, porém permanecem
espalhados em uma espécie de concentração que,
por vezes, fica presa as correntes em forma de
redemoinho.
Se, realmente, eles formassem ilhas, mesmo que
a um alto custo, seria possível limpar os oceanos.
Por enquanto, a melhor forma de minimizar o
problema, é o descarte correto do lixo plástico -
de preferência longe das margens dos rios, dos
mangues e até do mar -, a reciclagem do material
em alta escala, a substituição gradativa do mesmo
e até o simples recolhimento dos destroços que
chegam à praia, para evitar a volta dos resíduos
ao mar.
Foto: Google Earth
Mapa dos cinco grandes giros subtropicais dos oceanos


Fonte:

http://portalcienciaevida.uol.com.br 


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