sexta-feira, 18 de junho de 2010

E AGORA JOSÉ ?! - JOSÉ SARAMAGO, MORREU HOJE. DEIXOU-NOS A GRANDE HERANÇA DA SUA GRANDIOSA OBRA E O EXEMPLO CORAJOSO DO LUTADOR HUMANISTA E CÍVICO POR UM MUNDO LIVRE E JUSTO


 TRIBUTO DE HOMENAGEM A JOSÉ SARAMAGO


José de Sousa Saramago (Azinhaga-Golegâ-Portugal, 16 de Novembro de 1922
- Lanzarote-Canárias-Espanha, 18 de Junho de 2010. 

O escritor português José Saramago, Prémio Nobel de Literatura /1998, morreu, hoje, aos 87 anos, em sua casa da ilha espanhola de Lanzarote, nas Canárias, pela manhã, na companhia de sua esposa  espanhola, jornalista e tradutora, Pilar Del Rio. 

E AGORA JOSÉ ?!... orfãos da tuas novas palavras ficaremos, mas não orfãos da tua imorredoira obra e posições humanistas, cívicas, combativas - qual bravo "cavaleiro campino" da Lezíria da tua Golegã - sempre justas mas cáusticas para os que, na sua "cegueira", não foram capazes de distinguir as mensagens da tua sabedoria, dos seus preconceitos (e dogmas) que lhes toldaram a razão de entender o Bem, o Belo e o Justo que deve presidir à vida humana. 
 
José de Sousa Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga (Golegã, Ribatejo) no dia 16 de Novembro de 1922. Além de jornalista e escritor, foi desenhador, funcionário da Saúde e da Previdência Social, editor e tradutor.

Publicou o seu primeiro livro, "Terra do Pecado", em 1947, mas a segunda obra só chegou em 1966. A partir de 1976, dedica-se exclusivamente à literatura. Lança, em 1980, "Levantados do Chão" e tem o seu primeiro maior sucesso com "O Memorial do Convento" (1982), que o consagra como um dos maiores autores portugueses, posição confirmada com o lançamento do inventivo "O ano da morte de Ricardo Reis", em que narra os dias finais do heterónimo de um dos pilares da literatura do país, Fernando Pessoa, numa criativa mescla de fatos reais e imaginados.

Saramago era um autor prolífico. Além de romances, publicou diários, contos, peças, crónicas e poemas. Ainda em 2009, lançou mais um livro, "Caim", obra que retoma um personagem bíblico, subvertendo a versão oficial da Igreja Católica, como já fizera em 1991, com o seu "Evangelho segundo Jesus Cristo", causando polémica.

Em 1983, Saramago foi agraciado com o Prémio Camões, o mais importante prémio da literatura de língua portuguesa. 
Considerado um dos maiores nomes da literatura contemporânea, Saramago criou um dos universos literários mais pessoais e sólidos do século XX , unindo a actividade de escritor com a de crítico social, pronunciando-se sobre os grandes confrontos políticos da nossa época e denunciando injustiças sociais.

 
Saramago recebendo o Prémio Nobel de Literatura, em 1998

Podemos considerar que José Saramago foi um escritor verdadeiramente GLOCAL E CÍVICO, porque através das suas obras e posições públicas não só exprimia a problemática regional e nacional, como mergulhava nas grandes inquietações que o mundo do seu tempo atravessa, projectando na sua escrita e intervenções públicas, sempre uma posição cívica de Cidadania Universal, sem deixar de exprimir, por vezes, a sua caústica crítica, para defender uma visão humanista de um futuro que, idealizava, viesse salvar a humanidade. As suas parábolas, às vezes cruas, objectivas e amargas, deixavam, todavia, entrever a solidez dos seus valores e a crença de que é possível um mundo melhor. 

O presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, afirmou que se perdeu "uma referência luminosa "  Perdemos não apenas o maior escritor português, mas uma referência luminosa de dignidade e grandeza à escala universal",  disse.

Em 2003, o prestigiado e famoso crítico norte-americano Harold Bloom, no seu livro Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds ("Génio: Um Mosaico de Cem Exemplares Mentes Criativas"), considerou José Saramago "  o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje"   (tradução livre de the most gifted novelist alive in the world today), referindo-se a ele como "o Mestre".
Harold Bloom qualificou-o, ainda, ... um dos últimos titãs de um género em vias de extinção".   
A citação consta do prefácio de "O Caderno", assinado pelo italiano Umberto Eco, reproduzido pelo site do jornal espanhol "El País". 
Neste "Caderno", Saramago reúne textos publicados inicialmente em seu blog. 
No prefácio, Eco notava que, apesar de já ser amplamente consagrado, Saramago ainda se dispunha a escrever as suas reflexões sobre o mundo, na internet e a dialogar com os leitores.
No mesmo texto, o pensador italiano lista alguns dos temas presentes na obra de Saramago: os grandes problemas metafísicos, a realidade e a aparência, a natureza e a esperança, e como são as coisas quando não as estamos olhando. Eco arrisca ainda uma entre as muitas definições possíveis para Saramago: um     "  delicado tecedor de parábolas". 

A obra de Saramago encontra-se amplamente editada no Brasil, onde o escritor português é muito apreciado.

O seu livro "Ensaio sobre a Cegueira" foi adaptado para o cinema em 2008 pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles.

No mesmo ano, uma exposição sobre o trabalho de Saramago foi exibida no Brasil, país em que a sua obra é muito apreciada e divulgada.   " José Saramago: a consistência dos sonhos"   trazia cerca de 500 documentos originais e outros tantos digitalizados, reunidos num formato que, misturando o tradicional e a tecnologia moderna, levavam o visitante a uma agradável e rara viagem pela vida e pela obra do escritor português, que um dia afirmou:
No fundo, não invento nada, sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e a pôr à vista o que está por baixo. Não é minha culpa se de vez em quando me saem monstros". 

Casado com a tradutora e jornalista espanhola Pilar del Rio em segundas núpcias, tem uma filha e dois netos do primeiro casamento. Vivia na ilha espanhola de Lanzarote, nas ilhas Canárias, onde tem uma fundação com o seu nome.

Saramago será sempre "uma referência"    nacional - disse Presidente da República Portuguesa. 


O Presidente da República recordou José Saramago como um “escritor de projecção mundial”, sublinhando que o Nobel português “será sempre uma figura de referência da cultura nacional. Escritor de projecção mundial, justamente galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência da nossa cultura”, refere o chefe de Estado, numa mensagem de condolências à família do escritor, enviada à comunicação social.

“Em nome dos Portugueses e em meu nome pessoal, presto homenagem à memória de José Saramago, cuja vasta obra literária deve ser lida e conhecida pelas gerações futuras”, sublinha o Presidente, endereçando condolências à família do escritor.

O Ministro da Cultura do Brasil lamentou a morte de José Saramago. 

O ministro da Cultura do Brasil, Juca Ferreira, divulgou na manhã de hoje uma nota oficial lamentando a morte do escritor português José Saramago.

Aquele responsável refere que José Saramago mantinha relações privilegiadas com o Brasil e esteve presente em diversos eventos literários no país, onde se tornou muito popular, mesmo antes de ter sido galoardoado com o Prémio Nobel.

" A sua perda é recebida com muita tristeza, particularmente pelos que têm apreço pela língua portuguesa e pela sua importância cultural em tantos continentes. O Ministério da Cultura do Brasil soma-se aos que lamentam e manifestam a sua dor pela perda desse grande escritor"   - diz a nota.

A escritora Nélida Piñon representou ABL nos funerais de Saramago

A Académica, que está em Espanha, foi designada para representar a Academia Brasileira de Letras na despedida do autor




Selma Calasans Rodrigues, enquanto Professora de Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, teve ocasião de conhecer pessoalmente Saramago quando das suas frequentes palestras no Brasil, que sempre lotavam os auditórios, e com ele falar da importância da literatura Portuguesa e do grande impacto que José Saramago tem no Brasil, tal como, já antes, Fernando Pessoa. Neste momento de ausência de José Saramago, Selma Calasans Rodrigues dá-nos este testemunho, que a seguir publicamos:










Ars longa,vita brevis*Adeus Saramago!
Hoje estamos de luto. As personagens de nossa peça teatral decidem inesperadamente fechar a cortina e terminar mais um ato. Por sorte, não nos deixam de mãos vazias. Personagens como José Saramago nos deixam plenos, suas obras nos acompanharão e nos inseminarão sempre.
Comecei por conhecer Saramago, ou seja, sua obra nos Estados Unidos, pela mão de Emir Rodríguez Monegal, professor em Yale, especialista em Jorge Luís Borges. Ele me entregou o Memorial do convento e disse-me que lesse, que era uma obra muito especial. De fato li e fiquei encantada com aquela história inesperada, narrada num estilo também inédito.
Encantou-me a verdade da construção de um convento, as pedras imensas carregadas por aquelas personagens que geralmente não têm lugar na História oficial. Senti que Saramago queria dar voz a eles a esses representantes dos 20 000 trabalhadores que construíram o convento de Mafra. Outras personagens se entrelaçam: Bartolomeu Lourenço (ou Gusmão) que constrói um sonho: a passarola voadora. A história que mais nos encanta é a do amor de Baltazar e Blimunda que se entrelaça na outra. A música de Domenico  Scarlatti completa esse imenso painel  que revela os segredos de uma época repressiva. Histórias de desejo e de luta, muita luta para tentar a realização dos mesmos.
Depois do Memorial do Convento li muitos outros romances de Saramago, dos quais destaco O ano da morte de Ricardo Reis, que também me encantou, Todos os nomes, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a cegueira e outros . Não gostei de todos com a mesma intensidade. Confesso que os dois primeiros citados são os preferidos.
Tenho ainda obras a ler, de Saramago, seus últimos romances, mas tenho sobretudo a convicção de que um autor vale, sim, pelo conjunto de sua obra que se avalia quando está "  completa".  Mas vale, sobretudo, por aqueles momentos inesquecíveis, de verdade e de poesia : Blimunda e Baltazar Sete-Sóis…
*Versão latina da frase famosa de Hippocrates
  Selma Calasans Rodrigues 
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Um avião do Governo português foi a Lanzarote para recolher o corpo de José Saramago que foi velado na Biblioteca de Lanzarote que tem o seu nome, e foi transportado depois para a capital portuguesa onde foi realizada uma cerimónia fúnebre.
No avião, viajou a ministra da Cultura Gabriela Canavilhas. De Madrid viajou para Lanzarote o embaixador português. 
José Saramago foi cremado em Lisboa e as cinzas ficarão, parte em Portugal e parte em Lanzarote.

ATÉ SEMPRE SARAMAGO ! NOS REENCONTRAREMOS EM TEUS LIVROS E CONTIGO CONTINUAREMOS A DIALOGAR - MESMO COM OBJEÇÕES OU QUESTIONAMENTOS A ALGUMAS DAS TUAS PARÁBOLAS - PORQUE O TEU PENSAMENTO E EXPRESSÃO TÃO LIVRE, COMO O VENTO, HÁ-DE ILUMINAR E AFAGAR SEMPRE TODOS OS DIÁLOGOS COM QUEM NÃO SOFRE DAQUELA "CEGUEIRA" - A DA MENTE, QUE É A MAIS OBSCURA DE TODAS !

ATÉ SEMPRE, SARAMAGO ! PORQUE NOS HÁS-DE QUESTIONAR ATÉ À ETERNIDADE, QUE CONQUISTASTE, PORQUE DA LEI DA MORTE TE LIBERTASTE! 



AQUI, NESTE ESPAÇO LIVRE TE RENDEMOS A NOSSA SINGELA HOMENAGEM. 

     
Texto e pesquisa de internet
Carlos Morais dos Santos
Professor Universitário (APos.)
Cônsul (Lisboa) M.I. Poetas Del Mundo
Escritor-ensaísta, poeta, fotógrafo
Texto testemunhal
Selma Calasans Rodrigues
Professora Universitária (Apos.)
Escritora-ensaísta, investigadora

 

 

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Fernando Nobre alerta para "O Rufar dos Tambores da Guerra e a Fortaleza contra o Apocalipse"









Hoje, trazemos para os nossos leitores, um artigo do Dr. FERNANDO NOBRE, que consideramos de grande alcance e profundidade humanista, e que o autor publicou em seu blog - http://fernandonobre.blogs.sapo.pt - onde alerta para as principais ameaças à Paz do Mundo e define os grandes  desafios e conquistas que a sociedade humana ainda precisa alcançar, para seu aperfeiçoamento em todas as suas dimensões ontológicas, percorrendo uma via de  Desenvolvimento dos Valores Humanos, que é possível alcançar.

Trata-se de mais uma notabilíssima reflexãao desse enorme Cidadão do Mundo, grande e exemplar humanista, reconhecido internacionalmente como tal, fundador de uma das mais importantes organizações humanitárias internacionais, com grande e valiosa obra a favor dos desfavorecidos e das vítimas de catástrofes e de guerras  -  AMI - Assistência Médica Internacional - com, também, uma importantíssima obra de solidariedade social em Portugal, junto dos pobres e desvalidos.

Fernando Nobre é, sem dúvida, um dos mais "Nobres" e exemplares cidadãos da nossa contemporaneidade, quer no plano nacional quer internacional. Dotado de um enorme sentido de Cidadania Global, interrompeu uma brilhante carreira de médico, cirurgião e professor, que lhe garantiria um bem-estar social e económico privilegiado, para se dedicar a uma Missão Humanitária, que o levou a  edificar a partir de fracos recursos, uma obra - AMI - que é considerada internacionalmente como das mais respeitadas e úteis organizações de Assistência Humanitária, tendo estado, ele próprio, na linha da frente operacional de muitas Missões de ajuda no terreno, às vítimas de catástrofes e de guerras, em mais de 200 missões, em mais de 70 países.

Dotado de uma brilhante inteligência e vastíssima cultura, e também de competências práticas já demonstradas,  de  organização e lideraça, assim como um perfeito conhecimento de negociações com as mais altas autoridades de muitos países, e sendo uma personalidade reconhecida e respeitada internacionalmente, não é de espantar que Fernando Nobre se apresente, agora, como candidadto civil,  não vinculado ao sistema político dos partidos, às eleições para Presidente da República de Portugal, instado por imperativos cívicos e por muitos concidadãos que desde há muito aspiram a um Presidente da República, com tais características, que o credenciem como uma pura emanação da sociedade civil, da cidadania, absolutamente independente, e não representante dos jogos e aparelhos partidários.

Cmo  bom conhecedor das realidades portuguesas e internacionais, assim como dos rumos que Portugal deve percorrer para se erguer e afirmar no concerto das nações, tendo já demonstrado por muitas reflexões escritas e intervenções cívicas públicas, que conhece bem qual pode e deve ser o papel de Presidente da República de Portugal, Fernando Nobre é bem o exemplo de que  é possível que,  em momentos de crises instaladas não só económicas e financeiras, mas, sobretudo, sociais e de Valores Humanos. éticos e  civicamente comprometidos, com independência política partidária, se viabilize a Luz da inteligênncia, do humanismo,  das posições cívicas em prol de uma Cidadania Plena, que represente a  globalidade dos cidadãos, e se afirme como uma opção, em que um Bom Juiz e  Árbitro  da Nação pode ajudar a iluminar os caminhos da salvação colectiva, contagiando, com o seu papel pedagógico e influenciador, toda uma nação e seus mais responsáveis líderes. 

Fernando Nobre é o meu candidato, e é com orgulho que hoje aqui apresento uma de suas reflexões, inaugurando nesta Tribuna Cívica - livre e aberta a outras intervenções apartidárias, que é o PRO - CIVITAS UNIVERSALIS -  algumas intervenções que veiculem o pensamento e o projecto de Fernando Nobre. 

Comecemos pelo seu perfil e, depois, "ouçamo-lo" a propósito de suas/nossas apreensões sobre as ameaças de mais guerras, misérias e retrocessos, que impõem dramáticas consequências, sobretudo para os indefesos e desprotegidos, mas atentemos, também, nas grandes crenças de Fernando Nobre, como são também as minhas e de muitos, de que é possível, necessário e urgente, construir um mundo diferente e muito melhor, mais humanizado, menos injusto e desigual.

Carlos Morais dos Santos









Perfil:


Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre nasceu em Luanda em 1951. Em 1964 mudou-se para o Congo e, três anos mais tarde, para Bruxelas, onde estudou e residiu até 1985, altura em que veio para Portugal, país das suas origens paternas. É Doutor em Medicina pela Universidade Livre de Bruxelas, onde foi Assistente (Anatomia e Embriologia) e Especialista em Cirurgia Geral e Urologia.

É Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa  e Académico Correspondente da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. É membro do Conselho Geral da Universidade de Lisboa. É Professor Catedrático Convidado na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Professor Convidado dos cursos de Mestrado e Pós-Graduação na Universidade Autónoma de Lisboa e no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna e conferencista no Instituto de Estudos Superiores Militares.

Foi administrador dos Médicos Sem Fronteiras - Bélgica e fundou, em Portugal, a AMI – Assistência Médica Internacional, à qual ainda preside. Participou como cirurgião em mais de duzentas e cinquenta missões de estudo, coordenação e assistência médica humanitária em mais de setenta países de todos os continentes.

Em termos associativos:
- é presidente da Assembleia Geral do Instituto da Democracia Portuguesa e da Associação Tratado de Simulambuco, da qual também é co-fundador;
- é co-fundador do Fórum para a Paz;
- é patrono da Fundação Burgher Portugal - Sri Lanka; do agrupamento nº900 dos Escuteiros de Monte Abraão, dos Escuteiros de Aveiro, da APARECE (Instituição de Apoio a Adolescentes em Risco) e da Fundação As Crianças são o nosso Futuro (Ucrânia);
- é vogal do Conselho Fiscal do CAVITOP - Centro de Apoio a Vítimas de Tortura; 
- é membro da Associação para a Promoção e Dignificação do Homem, da Real Sociedade de Cirurgia (Bélgica), da Associação Europeia de Urologia, da Associação Portuguesa de Urologia, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio do Grémio Literário;
- é membro da Comissão de Honra de Homenagem a João XXI; 
- é sócio honorário da Associação Académica da Universidade de Aveiro;
- é co-fundador e sócio do Hospital Particular do Algarve;
- é sócio honorário do Lions Clube de Portimão.

Participações civico-políticas, enquanto cidadão independente e a título individual:
- Participação na Convenção do PSD, em 2002;
- Membro da Comissão de Honra e da Comissão Política da candidatura de Mário Soares à Presidência da República, em 2006;
- Mandatário nacional para a campanha do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu, nas eleições de Junho de 2009;
- Membro da Comissão de Honra da candidatura de António d'Orey Capucho à presidência da Autarquia de Cascais, em 2009.  

Ordens Honoríficas:
- Grande Oficial da Ordem do Mérito
- Cavaleiro da Legião de Honra de França
- Cavaleiro da Real Ordem da Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa
- Grã-Cruz da Ordem Diocesana de S. Tomé
- Cavaleiro da Ordem Nacional do Leão - Senegal

Confrarias e Irmandades:
- Membro da Irmandade Militar da Nossa Senhora da Conceição (Lamego)
- Grande Colar da Ordem Soberana dos Cavaleiros de Santo Urbano e São Vicente - Confraria dos Degustadores de Vinho do Dão (Viseu)
- Confrade de Honra da Confraria da Cabra Velha (Miranda do Corvo)
- Membro de Honra da Confraria das Tripas à Moda do Porto

Recebeu vários prémios e distinções em Portugal e no estrangeiro, incluindo o primeiro prémio da Associação Europeia de Urologia; a medalha de ouro dos Direitos Humanos, da Assembleia da República Portuguesa; a placa da Presidência da República do Líbano (entregue pelo General Émile Lahoud); e a insígnia de Grand Marshal do Estado de New Jersey (EUA), nas comemorações do Dia de Portugal. É Cidadão de Honra da Câmara Municipal de Cascais, Cidadão de Mérito da Câmara Municipal de Portimão, detentor da Medalha de Honra e Cidadão Honorário da cidade de Vila Nova de Gaia, Embaixador da Boa-Vontade da Ilha de Gorée (Contra a Escravatura), no Senegal e Embaixador do Condomínio da Terra.
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"O Rufar dos Tambores da Guerra e a Fortaleza contra o Apocalipse"
Por Fernando Nobre 

O título deste texto não é nenhum conto para crianças, mas também o poderia ser se o propósito fosse mostrar-lhes uma janela de esperança e impedir que repetissem os erros já cometidos pelos seus pais e avós.

A janela de esperança, efectivamente, ainda existe! Embora estreita, representa o sonho que está sempre presente em cada um de nós e que está a permitir a edificação de uma fortaleza contra o apocalipse. Essa fortaleza é constituída pelos cidadãos conscientes e informados do mundo que não abdicam dos seus valores e que por isso mesmo pugnam de forma determinada por um Mundo mais Humano, onde a Cidadania Global deverá ser uma realidade e onde os princípios éticos e morais deverão ser decisivos na tomada de decisões coerentes e de salvaguarda da Humanidade.

Nesse novo Mundo possível, a miséria absoluta, de que padece diariamente um quinto da população do Planeta Terra, seria erradicada e já só seria possível de ser vista num museu construído para o efeito, como sonha o último Nobel da Paz, o Professor bengali Muhammad Yunus. Esse museu, como o do holocausto Nazi, seria a prova viva da nossa memória colectiva sofrida, mas iluminada. Sofrida porque nos confrontaria com o facto de termos sido suficientemente inaptos e insensíveis para aceitar viver durante uma eternidade num mundo onde a “miséria assassina” vitimizava milhões de seres humanos todos os anos, qual verdadeiro genocídio silencioso e esquecido. Iluminada, porque ao conseguirmos eliminar tamanho absurdo, poderíamos enfim viver orgulhosos e felizes, pois teríamos, enfim, conseguido o maior feito alguma vez realizado pelo ser humano.

Se acabássemos com a miséria que tantas vezes me choca e humilha, daríamos um passo decisivo na caminhada para uma Paz sustentada e duradoura. Seriam depois necessários outros passos – mas disso as gerações vindouras se responsabilizariam, incentivadas pela nossa acção – até que um novo paradigma humano que impediria de uma vez por todas os desvarios presentes e os hediondos actos que infelizmente já se vislumbram, florescesse e iluminasse novos caminhos e entendimentos.
Mas de momento, infelizmente, de novo os tambores de guerra já rufam e, desta vez, anunciam-se armas atómicas!
Sessenta e dois anos depois do holocausto de Hiroshima e Nagasaki, ouve-se falar novamente, como um dado inevitável e sem possibilidade de retrocesso, da utilização de armas atómicas, desta vez com início no Médio Oriente...e fim no...

É contra esse crescente rufar ensurdecedor de tambores enfurecidos que a nossa Muralha (todos nós) se deve erguer e gritar um rotundo NÃO!

Enquanto médico humanista, pai, filho e irmão de todos os seres humanos da nossa Humanidade, peço que estejamos atentos por forma a, no momento oportuno, lançarmos em comum um grito global que imobilize os arautos da guerra espúria que desde já se preparam.

Não pudemos e não soubemos ser escutados de forma a impedir a absurda e criminosa guerra contra o povo iraquiano. Não nos é permitido voltar a falhar.  As crianças de todo o mundo e as gerações vindouras não nos perdoariam.

Desta vez, a nossa Muralha, a nossa Fortaleza, tem que conseguir travar os dois genocídios já em curso – o da fome e o da dívida (duas armas de destruição maciça, como justamente as apelida Jean Ziegler) -, mas também o genocídio que resultaria obrigatoriamente de uma deriva militar atómica. Se não o fizermos, não só destruiremos as nossas vidas, mas hipotecaremos, de forma duradoura, o futuro da nossa Terra.

Tirando esses combates tremendos, evitar um conflito atómico com contornos indefinidos e incontornáveis e pugnar pelo fim dos dois genocídios silenciosos já referidos, há ainda outras batalhas muito prementes e essenciais a travar pela nossa Fortaleza Cidadã, Cívica e Humanista.

O fim da corrida às armas, o fim dos governos corruptos e ditatoriais, a implementação de um comércio mais justo, a elaboração e aplicação de regras mais éticas, equitativas e equilibradas por parte do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, da Organização Mundial do Comércio e do G8..., o reforço da educação e da saúde no mundo, a gestão equilibrada dos recursos do Planeta e o fim da sua mortífera poluição, o fim da exploração sexual infantil e da antiga e nova escravatura, o fim do comércio sujo das pedras preciosas, o respeito pelos Direitos Humanos, o reforço da acção, independência e transparência das Nações Unidas e de todas as suas agências, a construção de uma União Europeia mais aberta e transparente e com dirigentes credíveis, de preferência, e preocupados em escutar os seus cidadãos...

Como vêem, meus Amigos, as tarefas e os desafios – e fiquei longe da enumeração exaustiva – são hercúleos, ciclópicos! A Humanidade não precisa e não suporta mais nenhum desvario como aquele que insistentemente ouço, nos últimos tempos: um conflito atómico! Como se tratasse apenas de comer um gelado ou beber um whisky e, seguidamente, virássemos simplesmente uma página, mais uma, do livro “danos colaterais”, aberto por alguns inconscientes e incompetentes globais.

Importa encerrar este livro de cinismo e de ignomínia o quanto antes. A Fortaleza, a Muralha constituída por nós, Cidadãos Globais informados, atentos, humanistas e interventivos, pode consegui-lo. Tal será muito mais fácil e evidente se a nossa Fortaleza Global estiver alicerçada em Governos democráticos, éticos e responsáveis e em forças do Mercado Cidadãs e Solidárias.  É isso que temos que conseguir. É por esse fim que temos que pugnar! É esse, penso eu, o nosso dever indeclinável de Seres Humanos Livres e Sequiosos de Paz, em prol do Mundo sustentado que sonhamos.

Não nos esqueçamos do que o sábio Pitágoras dizia: “Educai as crianças e não será preciso castigar os homens”.  Invista-se, pois, na educação, informação, sensibilização para a cidadania e bom senso, a fim de evitarmos mais guerras e indizíveis sofrimentos que castigam os inocentes e os esquecidos de sempre!
Entre a denominação de “Pacifista” ou de “Utópico”, quantas vezes pronunciada com superior desdém e desprezo por alguns, e o de “Assassino” (politico, económico ou ...) a quem nada perturba o sono, eu já escolhi. E vocês, meus Amigos?

Mais: não aceito, não quero, não permito que os meus filhos, os biológicos e os do Mundo, sejam carne para canhão, numa guerra atómica ou outra qualquer, inventada e conduzida por objectivos iníquos. Este é o meu grito!

Ouçam-no, por favor, em nome de uma Humanidade que sonho e quero humanista e solidária.

Fernando Nobre

sexta-feira, 11 de junho de 2010

10 DE JUNHO, DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES























Hoje, dia 10 de Junho, comemora-se em Portugal e por todas as comunidades portuguesas da diáspora espalhadas pelo mundo, o DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES. É um tempo de celebrações oficiais e de discursos vários, desde as solenidades presididas pelo Presidente da República portuguesa que, este ano, escolheu o Algarve, sua região Natal, como sede das Comemorações, até às celebrações que em Lisboa e por todas as restantes cidades de Portugal e do mundo assinalam este dia, com festas e discursos de circunstância. 















É também o dia em que se celebra Portugal, atribuindo-se condecorações concedidas pelo Presidente da República Cavaco Silva, às mais representativas personalidades de todos os campos de actividade, que este ano foram seleccionadas pelo Presidente da República, enquanto Grão Mestre de todas as Ordens de Condecorações, em que algumas dessas condecorações serão entregues a título póstumo aos representantes daquelas personalidades que, infelizmente, faleceram no decorrer deste ano. 













Se neste dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, se evoca Camões, mesmo implicitamente, e os extraordinários feitos do Portugal quinhentista e seiscentista que o nosso maior Poeta cantou  na sua grande obra Os Lusíadas, também isso nos faz reflectir sobre as razões porque Portugal se tornou, então o "Centro do Mundo" e daí em diante se foi diminuindo na sua importância no quadro das nações europeias até chegar a uma situação hoje em dia que, a par de notáveis progressos trazidos com a restauração da democracia em 1974 e depois da adesão à Comunidade Europeia em 1982, subsistem grandes desigualdades e atrazos que colocam Portugal no fim da tabela dos prinncipais indicadores de Desenvolvimento Humano da Europa e, mesmo depois das colossais ajudas financeiras recebidas dos auxílios dos  sbsídios financeiros da C.E. para o apoio ao esforço de coesão, a divergência relativa a média  dos países da C.E. é progressivamente maior de ano para ano, apesar de ao nível das infra-estruturas de base como estradas, pontes, comunicações, tecnologias, obras públicas em geral, Portugal se apresentar como um país bastante moderno.







Agora, ironicamente e desde há décadas os responsáveis políticos já esqueceram que Portugal foi o "Centro do Mundo" e, tal como dizia o ditador Salazar durante décadas, dizem que Portugal sofre da situação de periferia da Europa, como se, hoje em dia, na Era da Globalização, essa fosse uma razão que obstasse a que os países da Escandinávia, situados no extremo norte da Europa, que os impediu de serem dos mais avançados e desenvolvidos países do mundo, figurando no topo das tabelas do Desenvolvimento Humano, à frente de todos os outros, incluindo dos E.U.A.       












Este Dia de Portugal é, também, um tempo de reflexão e balanço sobre o Estado da Nação, reflexão que transparece do discurso do Presidente Cavaco Silva e de outros políticos e personalidades representativas da Nação e das Comunidades e,  muitas dessas análises, inevitavelmente, não deixam de alertar para a situação de crise  económica e social em que Portugal e muitos países da Europa e do mundo se encontram mergulhados, com situações de desemprego e agravamento das condições de vida das classes mais desprotegidas da sociedade, como são as classes pobres e trabalhadoras indiferenciadas,  porque, como sabemos, as classes privilegiadas e os detentores de  fortunas,  pouco ou nada sofrem com as crises, às vezes até se beneficiam delas, apesar de normalmente estarem associados aos fenómenos que causaram estas mesmas crises, como é o caso da actual crise económica e financeira mundial que, como todos sabemos, foi causada pela ganância e actuações criminosas de grandes especuladores responsáveis pelo sistema financeiro internacional.
Na maior parte dos casos, os graves e criminosos procedimentos dos principais agentes financeiros  do sistema mundial que causaram a Globalização da Crise, ficaram impunes e privatizaram para seu benefício  os imensos lucros ilegítimos, enquanto os dirigentes políticos se apressaram a estatizar os prejuízos, injectando  colossais verbas públicas no sistema financeiro para salvarem bancos e banqueiros,  levando a que fossem as vítimas da crise  a arcarem com os prejuízos, sobre as formas de desemprego, fome, aumento de impostos sobre o trabalho, o que  evidencia a perversidade dos sistemas desregulados e descontrolados destas formas de economia financeira  de mercado selvagem, que muitos dirigentes políticos continuam a saudar, apoiando e auxiliando  apressadamente os bancos e banqueiros envolvidos no descalabro, os quais, assim. se encorajam a perpetuar o sistema corrupto e perverso.
Por outro lado e contrariamente, tardam, enredadas em intrincadas complicações burocráticas e políticas, as decisões de apoio às classes mais pobres, aos trabalhadores, às micro e P.M.Es, ao desemprego, e não se vislumbram vontades políticas para alterações estruturais profundas com mudanças radicais nos modelos governativos e nos sistemas económicos e financeiros,.
Ao invés, parece haver a nível global, uma disposição colectiva de todos os mais altos responsáveis políticos e financeiros, e até das grandes empresas e corporações, para perpetuarem o sistema que só favorece a multiplicação rápida de fortunas e o empobrecimento e marginalização das classes baixas da sociedade, o aumento da pobreza e do desemprego, porque se vai abandonando o modelo e o sonho de "Uma economia Social de Mercado", baseada não na prevalência do financeiro sobre o económico e sobre a política e o próprio estado, mas baseado na economia produtiva, criadora de riqueza e valor acrescentado, com regulações e controlos que garantam os equilíbrios do sistema e a justa distribuição da riqueza e dos esforços contributivos em impostos para o Estado Social, património europeu, que apesar de ser muito atacado ultimamente como inviável, não pode deixar de ser a base de uma sociedade solidária, justa, e é perfeitamente sustentável por um sistema político-social-económico-financeiro, regulado e equilibradamente justo na distribuição das contribuições por todos os agentes do sistema.







Manifestações popular de protexto contra as medidas governamentais de aumento de sacrifícios aos trabalhadores 




Várias questões cruciais se colocam hoje em dia: 
  • Porquê se exigem e impõem sempre às classes baixas e média o ónus do sacrifício em tempos de crise, mesmo quando essas crises são consequência de desgovernos, de especulações criminosas e de corrupções dos sistemas, feitas pelos representantes das grandes corporações, sob o descaso e a conivência relapsa dos governantes  ?
  • Porquê no mundo inteiro e, em particular, nos regimes menos democráticos ou demasiado refens de um neo-liberalismo capitalista financeiro, se multiplicam com grande rapidez novas fortunas, não resultantes do labor produtivo da economia real ?
  • Porquê apesar do espantoso desenvolvimento económico trazidos pela globalização e a aceleração da investigação e aplicação da ciência e tecnologia, aumenta cada vez mais o fosso entre as classes de altos rendimentos e ricas e as classes pobres ?
  • Porquê países e continentes riquíssimos como os países de África, alguns do próximo oriente e do oriente e da América Latina, continuam a sofrer de graves carências básicas, onde multidões morrem de fome, de doenças, de epidemias, sem acesso ao desenvolvimento humano e económico ?
  • Porquê, mesmo nos países desenvolvidos e dominadores enquanto potências mundiais, isto é, países que se auto proclamam de primeiro mundo (expressão ignóbil e cínica que é de rejeitar),  aumentam cada vez mais, as faixas de população de excluídos sociais e de pobres sofrendo todas as misérias e esquecimentos, isto é, de manchas vergonhosas do maldito terceiro mundismo ?
  • Porquê outras nações que há não muitas décadas eram pobres (algumas nem sequer dispõem de recursos naturais no solo ou no sub-solo) são hoje campeãs do desenvolvimento económico e social e consolidaram um desenvolvimento sustentável e um estado social sólido, como são exemplo disso os países da Escandinávia, a Suiça e, em grande medida, a Inglaterra, a Alemanha, o Japão, entre outros ? 
E em Portugal, país vocacionado e geo-estratégicamente bem posicionado no eixo Europa, África, América, com uma grande vocação atlântica e universalista, porquê está no fundo da escala da Europa e a divergir da média europeia, 36 anos após a reconquista da democracia e 28 anos após a adesão à C.E. e tendo já recebido ajudas financeiras comunitárias que ultrapassam em valor a riqueza de todos os seus ciclos de riquezas trazidas pela colonização, como o ouro, as especiarias, as matérias primas, etc., valores de ajuda financeira que na sua quase totalidade pagaram as actuas modernas infra-estruturas básicas, como o saneamento básico, as estradas, as pontes e as obras públicas em geral, além dos fortes financiamentos ao desenvolvimento regional do interior continental e das ilhas e de apoio às actividades económicas empresariais ?
Será porque os sucessivos governos que depois de 25 de Abril de 1974, têm sido continuamente garantidos pela oligarquia política dos dois únicos partidos que se alternam no poder, o PS e o PSD, têm vindo a engrossar o "monstro" de uma máquina tentacular de instituições de um estado que gasta cada vez mais do que devia e podia, alimentando uma cada vez maior e mais privilegiada classe política profissional, em grande parte desnecessária e parasitária, que absorve mais do que o PNB, endividando cada vez mais o país  ? 
Será porque o duopólio político português, minado por políticos sem dimenção intelectual, técnica, cultural, humanista e ética e sem capacidades de liderança carismática de autoridade e competências reconhecidas, têm feito da política um feudo sempre em banquetes de esbanjamento e enriquecimento pessoal e têm multiplicado os exemplos pérfidos de representantes do utilitarismo, do individualismo, do materialismo e do consumismo sem lei e sem moral, que são a marca destes tempos de todas as liberdades sem responsabilidades nem deveres, de todas as impunidades sem prestação de contas, de todas as informações formatadas (a que chamam multiplos meios de comunicação social em quase tempo real - mass media), pré-moldada (prête a porter), que quase nada debatem dialecticamente, formatando o pensar e o agir e que rapidamente atiram para o esquecimento  o que é importante, em meio às avalanches de informação e desinformação massiva e de desprezível irrelevância ?
Será porque os responsáveis políticos e de todas as restantes actividades humanas estão cada vez mais gananciosos, eticamente desprovidos e amoralmente indiferentes a que, ao banquetearem-se em festins de abastança permanente (muitas vezes ilegitimamente adquirida), estão cavando cada vez mais o enorme fosso que os vai colocando muito distantes daqueles que nas classes baixa e média os alimentam e engordam com o seu labor diário, muitas vezes penoso com enormes dificuldades e carências ?
Po exemplo: sempre se prega e ouve que os salários em Portugal estão baixos (os dos trabalhadores, diga-se, porque os dos dirigentes esses podem estar muito acima da média europeia que não é escandaloso!), porque os trabalhadores têm uma produtividade baixa e é preciso que esta aumente para que seus salários aumentem! 

Pois bem, pouca gente se interroga se a tão falada desculpa da produtividade é um indicador que depende só dos trabalhadores ou, e principalmente, depende mais dos dirigentes e da gestão (organização, planeamento, liderança e controlo) e que, não sendo competente e não proporcionando condições favoráveis ao desenvolvimento pessoal e técnico-profissional aos trabalhadores, são eles, os dirigentes, os que reclamam por maior produtividade das actividades empresariais, os que são os verdadeiros responsáveis pelo não desenvolvimento qualitativo e quantitativo das suas empresas, logo, da economia e da riqueza nacional. Será porque lhes interessa manter os trabalhadores abaixo do nível desejado, para continuarem a basear os seus lucros, mais nos baixos salários e menos na competitividade baseada na inovação e criatividade, na diferenciação e no valor acrescentado ?
Outro exemplo: O estado português, ou melhor, os sucessivos governos de Portugal, depois da restauração da democracia em 1974, e da adesão à C.E. e ao acesso aos subsídios colossais e fáceis de obter das ajudas financeiras da C.E., têm vindo, mesmo assim, a aumentarem a dívida pública do estado português até um inadmissível nível em que já ultrapassa a capacidade de a pagar com a riqueza nacional produzida. 
Ora, não se vê um debate sério e consequente, levado a cabo pela Assembleia da República, pelos partidos políticos, pelas Instituições Universitárias e outras instituições representantes do empresariado e dos sindicatos e, até, emanadas da sociedade civil, que coloquem como prioridade sem a qual nenhuma estratégia de desenvolvimento de Portugal estará míope, paraplégica e  condenada ao fracasso, debates e conclusões a terem que se implantar, em primeira instância, sobre várias questões que se podem diagnosticar como as fraquezas e debilidades, os desequilíbrios e os constrangimentos ao desenvolvimento português, das quais, entre tantas, apenas destaco, aqui e agora, apenas algumas delas, que seriam mais do que suficientes para enfrentar e resolver a crise financeira e a dívida pública portuguesa. São estas as seguintes questões:
  • Porquê não se leva urgentemente a sério, um debate sobre a prioritária reforma administrativa do Estado, de modo a reduzirem-se drasticamente as despesas do mesmo, e a melhorar-se consideravelmente o trinómio "despesa-eficácia-satisfação pública", adoptando-se um modelo de melhorias contínuas, avaliação de desempenho e de controlo da qualidade em todos os serviços, através de um projeto de responsável e inteligente "down - sizing", em que se reduzisse drasticamente o tamanho do aparelho do Estado e, por consequência  a despesa pública, pela redução progressiva e programada de institutos estatais e para-estatais, autárquicos, regionais - como as empresas públicas e Institutos de serviços que podem ser garantidos pelos próprios técnicos do estado, empresas autárquicas, assessores, consultores, deputados, governadores civis, que são claramente desnecessários e muitos deles inúteis ?
  • Porquê não se impõem regras de regulação das margens de lucros (que nalguns casos chegam a ser obscenas e espoliadoras dos clientes, como o caso dos bancos, das indústrias farmacêuticas, das telecomunicações)  e se aplicam impostos justos e igualitários às entidades do sistema financeiro (bancos, off shores, bolsas, seguradoras) em que estas, enquanto empresas, ou só pagam ao estado, escandalosamente, cerca de 12% menos de IRC (bancos) do que toda e qualquer empresa grande, micro ou PME, apesar de impunemente auferirem lucros  astronómicos ilegítimos de taxas e sobretaxas de despesas imputadas aos clientes e carregam as margens de  operação (spreads) perfeitamente obscenas, em relação à actividade bancária da  Europa desenvolvida, onerando e inviabilizando a actividade económica e, no caso das Bolsas de Valores e off-shores se consente ,inexplicavelmente, que até haja regime de isenções fiscais, quando ao mais humilde dos salários de trabalhadores ou à mais insignificante das micro-empresas, que mal sobrevivem, se impõem impostos pesados e sacrificantes e uma contribuição para o estado, injustamente muito acima ?
  • Porque será que em Portugal desde os partidos dos governos (PS e PSD), aos da oposição mesmo os da esquerda que não tem (ainda) grande probabilidade de vir a governnar, passando por sindicatos, organizações empresariais e cívicas, parece haver uma disfarçada "conspiração do silêncio" sobre estes temas, de tal modo que, mesmo quando alguém de tempos a tempos formula estas questões na Assembleia da República ou noutras instâncias, nunca encontram respostas e debates conclusivos.  Ao invés, são dadas respostas de diversão para outros temas e, inexplicavelmente, todos, mesmo os que rara e timidamente questionam sobre estas matérias, parecem contentar-se com as não respostas e ausências de debate, e ninguem mais promove uma mudança nestas situações absurdas, nem mesmo aqueles sectores do trabalho (sindicatos) e empresariais que são mais directamente prejudicados com o ónus de terem o exclusivo dos sacrifícios sobre os impostos para o estado. Será que os bancos, off-shores, as bolsas, as indústrias farmacêuticas, as telecomunicações,  as empresas de energia, os monopólios e oligopólios, são as "vacas e os bezerros sagrados" do sistema, que ninguém pode profanar nem tocar? 











    É preciso que se  saiba o que se passa em Portugal relativamente a alguns destes temas cruciais que aqui acabo de expor e questionar, para que não se continue a assistir à mistificação dos problemas e à indiferença perante os mesmos face a que algusn "papagaios da política" nos vão assobiando:
    "... os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham cerca de metade (55%) do que se ganha na zona euro

    Mas os nossos gestores recebem, em média:

           - mais 32% do que os americanos;
          - mais 22,5% do que os franceses;
           - mais 55 % do que os finlandeses;
                                                           - mais 56,5% do que os suecos"

    Parece que as mazelas e incapacidades da governação portuguesa já são endémicas e longínquas porque  há mais de 100 anos já distintos comentadores e intelectuais como Guerra Junqueiro se queixavam dos mesmos desgovernos, desleixos, incapacidades e até imoralidades que, hoje, como ontem, condenam Portugal a uma vil existência em que este paraíso "à beira mar plantado" só o é, de facto, para os privilegiados do sistema vigente, da fortuna furtuita (filha da corrupção), ou da fortuna herdada ou acumulada pela actividade empresarial, que nega aos trabalhadores uma justa reparticipação na riquiza produzida, através de salários justos. 

    Aliás, só o capitalismo míope e ganancioso é que não vê que os justos salários são factor do próprio desenvolvimento empresarial e económico em geral, porque melhores rendimentos das famílias corresponde a maior poder de compra e maior dinamismo da produção e consumo interno e, daí, resultam indispensáveis melhorias de productividade e competitividade, que fazem dos mercados internos alavangens para a inovação e qualidade que servem de aprimoramento para a expanção das economias nacionais para os mercados internacionais, em que as empresas exportadoras se aperfeiçoaram e testaram primeiro em seus mercados domésticos. Este é, por exemplo, o caso de economias fortes e desenvolvidas que pagando salários mais elevados, têm mercados internos fortes, exigentes e desenvolvidos, e são poderosas economias exportadoras com altos índices de competitividade, como são o Japão, a Alemanha, os países da Escandinávia, a Suiça e outros.

    Portugal tem sido um país paraíso para oportunitas e corruptos sem escrúpulos, e empresários  adeptos de um capitalismo primário, básico, ganancioso, estúpido, sem visão estratégica de desenvolvimento económico, social e humano, que acreditam na teoria dos lucros à custa de baixos salários, em vez de uma gestão científica, competente, humanizadora e de responsabilidade social, que aqui sabem poder fazer fortunas o mais rapidamente possível não importa por que meios, e que aqui podem viver impunemente.

    Vejamos abaixo alguns exemplos do que se passava em Portugal há mais de 100 anos:



















    Guerra Junqueiro








    "  Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
    fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
    aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
    sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
    pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
    um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde
    vem, nem onde está, nem para onde vai;
    um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
    e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
    um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em 
    silêncio escuro de alma morta.

    Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
    não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
    sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
    descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
    capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
    da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam,
    entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis
    no "  Limoeiro"   (nota: antiga prisão de criminosos comuns).

    Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
    este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
    tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

    A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao
    ponto de fazer dela saca-rolhas.

    Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
    incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e
    pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
    iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
    e não se malgando e fundindo, apesar disso,
    pela razão que alguém deu no parlamento,
    de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
    Guerra Junqueiro, 1896.

    Carlos Morais dos Santos