segunda-feira, 25 de abril de 2011

Por Carlos Morais dos Santos - POEMA "EUROPA"


Percebemos todos, hoje, que as  "Grandes Virtudes"  da Globalização (?), afinal, ainda não passaram de globalização financeira, económica, política, baseada no ultra neo-liberalismo de um capitalismo financeiro selvagem, à solta, sem nome e sem rosto, sem controlo e regulação, que tem por quase "religião" o serviço a esse Deus das trevas, soberano, tirano e injusto, obscuro, a que se convencionou chamar de MERCADO. 

É a esta entidade abstrata, irresponsável, em nome da qual se praticam as mais desumanas políticas, e que tudo justifica e desculpa, que esse capitalismo financeiro começou primeiro por devorar o papel social da economia, destruindo o sentido de que é pelo trabalho, pela produção de riqueza real, substantiva, que se pode distribuir a riqueza e promover o progresso social e o Desenvolvimento Humano, para, depois, sequestrar e até substituir-se aos próprios Estados, eliminando a função nobre da verdadeira política  - a que serve o bem comum da PÓLIS.

Hoje em dia, já não há, numa grande parte dos Estados-Nações, o exercício da política pura. O que há é a condução régia dos destinos das nações pelo poder das grandes centrais das corporações financeiras que são quem realmente governa.
   
Esta Globalização, ainda longe de nivelar por cima a mundialização do progresso social e do Desenvolvimento Humano equânime e justamente distribuído, por enquanto ainda só mundializou as facetas mais perversas da ganância, do egoísmo e do poder indiscriminado dos mais fortes sobre os mais fracos, cavando ainda mais fundo os abismos entre riqueza  e pobreza, entre luxo e miséria, entre paz e guerra. 

Sobretudo, desde a grande revolução das comunicações globalizadas, instantaneas, on line, que foram mais aproveitadas para espalhar, globalizando, as perversidades em vez das solidariedades e do humanismo, as crises mundiais têm-se sucedido em ondas cada vez mais gigantescas que têm arrazado, principalmente, os países de economias mais frágeis e dependentes. 

Foi assim na grande crise do petróleo dos anos 70, depois dos anos 80 e 90 do século passado. Estas crises sucessivas em sinistra sinusal, de depressão/recuperação/depressão, têm vindo a destruir a  crença na velha utopia de que é possível construir "Um Mundo Melhor", a partir do esforço de cooperação baseada na solidariedade dos países mais ricos para com os mais pobres e atrasados, já que todo o mundo só terá a ganhar quando conseguir atingir um elevado grau de coesão e igualdade. 

Mas a ganância, que é sempre estúpida, fala mais forte. Veja-se o que está acontecendo em consequência  desse grande Tsunami que, vindo dos EUA, inundou, envenenando, os sistemas financeiros do resto do mundo. Chamam-lhe Crise Mundial, ao que não foi nem mais, nem menos, do que a maior fraude financeira da história que, urdida e partindo de uns quantos magnatas das corporações financeiras norte americanas, levou quase à banca-rota muitos países, incluindo a própria Europa. 

Europa que tendo nascido da utopia da UNIÃO EUROPEIA, tem vindo a encaminhar-se para uma divisão entre os países mais fortes e os países mais frágeis, uma europa a duas velocidades, com parceiros de primeira, de segunda e terceira classe. 

Uma Europa que, até para defrontar este tsunami norte-americano, não tem sido solidária com aqueles países que, como a Grécia, Irlanda e Portugal tiveram que  bater no fundo - parte por desgovernação, parte porque foram fortemente atingidos pelo Tsunami Norte Americano - para só depois, já bem fragilizados, serem "socorridos" tardia e especulativamente por uma Europa indiferente aos abutres externos.

Aliás, ela própria, a Europa, só já  assume aquilo a que chama ajuda aos seus próprios membros, ligando as suas próprias Instituições como o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, ao F.M.I. - Fundo Monetário Internacional (atrás do qual se disfarçam as grandes corporações do capital de todas as origens),  numa chamada "Troyka", o que evidencia alguma incapacidade da UE  de resolver, por si, os seus próprios problemas, e até, evidencia a promiscuidade em que já se encontra. 

A tardia e confusa reação da UE para fazer funcionar os seus mecanismos de solidariedade nesta crise, tem se revelado muito mais em relação aos países seus membros mais frágeis que, realmente, estão na segunda linha dos privilégios da UE, isto é, permitiu-se que se degradasse demais, primeiro as situações da Grécia, da Irlanda e de Portugal, para só se atenderem estes em situações de desespero, obviamente, muito mais sacrificantes, como, talvez, a seguir, o mesmo pode vir a acontecer com a Espanha, Bélgica e Itália. Na verdade,  a UE, tem tratamentos diferenciados para filhos e enteados, talvez, porque a própria UE já esteja refém das forças corporativas do grande capitalismo financeiro mundial que tudo submete e governa.

É por isso, que o meu poema de 2003 - EUROPA - faz todo o sentido, agora, em Abril de 2011. Eis, pois, a razão porque o retomo para traze-lo de novo à luz dos leitores deste nosso Blog - Revista Pro-Civitas.


EUROPA

Foi em Tiro que teu régio pai Agenor
Te deu o nome e deixou brincar na praia
E foi lá que Zeus, deslumbrado, se perdeu de amor
Quando ainda em Creta eras a mais bela catraia

Da vontade de Zeus vivificada em teu fértil ventre
brotaram três frutos: Minos, Radamantus e Sarpedão
filhos do Deus dos Deuses, boa e divina semente
que divinizou teu ser inteiro e teu amante coração

Casaste com Astérius que adoptou teus divinos filhos
Tornaste-te Deusa Helótis que a Creta se deu de coração
Ao te endeusares esqueceste ser Europa… que sarilhos !
E a Nova Europa agora te redime com esta outra União

Será que esta nova Europa conseguirá ficar unida ?
Tão diversa na riqueza, na pobreza e no poder,
Tão discordantes os novos deuses que a tornam enfraquecida,
Tão grandes as dependências e as lembranças do sofrer ?

Esta formosa e jovem Europa tem uma nova mitologia
Julga-se amante de um novo Zeus que a defenda e proteja
Mas não é Zeus, é América, que te sequestra e em ti procria
Mas tu formosa Deusa, tens riqueza e sabedoria que se inveja !

Foste tu e os teus filhos que ao mundo deram Luz e Beleza
Foi do teu ventre que saiu o melhor da antiga Globalização
Fizeste o Renascimento e o Humanismo com a riqueza
Dos grandes movimentos criadores dos direitos e da razão

Por isso, Europa bela, recusa seres Deusa de tantas cabeças,
De tantas pernas, tantos braços, tantas vozes e corações,
Sê tu própria, sem Zeus, forte, igualitária, e não te desmereças,
Sê una, humanista e solidária, no concerto de todas as nações !



Carlos Morais dos Santos
 ( in “ Sossego Intranquilo”, Hugin Edit., 2003 )
Cônsul (Lisboa) do Mov.Internac. Poetas Del Mundo 


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