sexta-feira, 18 de junho de 2010

E AGORA JOSÉ ?! - JOSÉ SARAMAGO, MORREU HOJE. DEIXOU-NOS A GRANDE HERANÇA DA SUA GRANDIOSA OBRA E O EXEMPLO CORAJOSO DO LUTADOR HUMANISTA E CÍVICO POR UM MUNDO LIVRE E JUSTO


 TRIBUTO DE HOMENAGEM A JOSÉ SARAMAGO


José de Sousa Saramago (Azinhaga-Golegâ-Portugal, 16 de Novembro de 1922
- Lanzarote-Canárias-Espanha, 18 de Junho de 2010. 

O escritor português José Saramago, Prémio Nobel de Literatura /1998, morreu, hoje, aos 87 anos, em sua casa da ilha espanhola de Lanzarote, nas Canárias, pela manhã, na companhia de sua esposa  espanhola, jornalista e tradutora, Pilar Del Rio. 

E AGORA JOSÉ ?!... orfãos da tuas novas palavras ficaremos, mas não orfãos da tua imorredoira obra e posições humanistas, cívicas, combativas - qual bravo "cavaleiro campino" da Lezíria da tua Golegã - sempre justas mas cáusticas para os que, na sua "cegueira", não foram capazes de distinguir as mensagens da tua sabedoria, dos seus preconceitos (e dogmas) que lhes toldaram a razão de entender o Bem, o Belo e o Justo que deve presidir à vida humana. 
 
José de Sousa Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga (Golegã, Ribatejo) no dia 16 de Novembro de 1922. Além de jornalista e escritor, foi desenhador, funcionário da Saúde e da Previdência Social, editor e tradutor.

Publicou o seu primeiro livro, "Terra do Pecado", em 1947, mas a segunda obra só chegou em 1966. A partir de 1976, dedica-se exclusivamente à literatura. Lança, em 1980, "Levantados do Chão" e tem o seu primeiro maior sucesso com "O Memorial do Convento" (1982), que o consagra como um dos maiores autores portugueses, posição confirmada com o lançamento do inventivo "O ano da morte de Ricardo Reis", em que narra os dias finais do heterónimo de um dos pilares da literatura do país, Fernando Pessoa, numa criativa mescla de fatos reais e imaginados.

Saramago era um autor prolífico. Além de romances, publicou diários, contos, peças, crónicas e poemas. Ainda em 2009, lançou mais um livro, "Caim", obra que retoma um personagem bíblico, subvertendo a versão oficial da Igreja Católica, como já fizera em 1991, com o seu "Evangelho segundo Jesus Cristo", causando polémica.

Em 1983, Saramago foi agraciado com o Prémio Camões, o mais importante prémio da literatura de língua portuguesa. 
Considerado um dos maiores nomes da literatura contemporânea, Saramago criou um dos universos literários mais pessoais e sólidos do século XX , unindo a actividade de escritor com a de crítico social, pronunciando-se sobre os grandes confrontos políticos da nossa época e denunciando injustiças sociais.

 
Saramago recebendo o Prémio Nobel de Literatura, em 1998

Podemos considerar que José Saramago foi um escritor verdadeiramente GLOCAL E CÍVICO, porque através das suas obras e posições públicas não só exprimia a problemática regional e nacional, como mergulhava nas grandes inquietações que o mundo do seu tempo atravessa, projectando na sua escrita e intervenções públicas, sempre uma posição cívica de Cidadania Universal, sem deixar de exprimir, por vezes, a sua caústica crítica, para defender uma visão humanista de um futuro que, idealizava, viesse salvar a humanidade. As suas parábolas, às vezes cruas, objectivas e amargas, deixavam, todavia, entrever a solidez dos seus valores e a crença de que é possível um mundo melhor. 

O presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, afirmou que se perdeu "uma referência luminosa "  Perdemos não apenas o maior escritor português, mas uma referência luminosa de dignidade e grandeza à escala universal",  disse.

Em 2003, o prestigiado e famoso crítico norte-americano Harold Bloom, no seu livro Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds ("Génio: Um Mosaico de Cem Exemplares Mentes Criativas"), considerou José Saramago "  o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje"   (tradução livre de the most gifted novelist alive in the world today), referindo-se a ele como "o Mestre".
Harold Bloom qualificou-o, ainda, ... um dos últimos titãs de um género em vias de extinção".   
A citação consta do prefácio de "O Caderno", assinado pelo italiano Umberto Eco, reproduzido pelo site do jornal espanhol "El País". 
Neste "Caderno", Saramago reúne textos publicados inicialmente em seu blog. 
No prefácio, Eco notava que, apesar de já ser amplamente consagrado, Saramago ainda se dispunha a escrever as suas reflexões sobre o mundo, na internet e a dialogar com os leitores.
No mesmo texto, o pensador italiano lista alguns dos temas presentes na obra de Saramago: os grandes problemas metafísicos, a realidade e a aparência, a natureza e a esperança, e como são as coisas quando não as estamos olhando. Eco arrisca ainda uma entre as muitas definições possíveis para Saramago: um     "  delicado tecedor de parábolas". 

A obra de Saramago encontra-se amplamente editada no Brasil, onde o escritor português é muito apreciado.

O seu livro "Ensaio sobre a Cegueira" foi adaptado para o cinema em 2008 pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles.

No mesmo ano, uma exposição sobre o trabalho de Saramago foi exibida no Brasil, país em que a sua obra é muito apreciada e divulgada.   " José Saramago: a consistência dos sonhos"   trazia cerca de 500 documentos originais e outros tantos digitalizados, reunidos num formato que, misturando o tradicional e a tecnologia moderna, levavam o visitante a uma agradável e rara viagem pela vida e pela obra do escritor português, que um dia afirmou:
No fundo, não invento nada, sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e a pôr à vista o que está por baixo. Não é minha culpa se de vez em quando me saem monstros". 

Casado com a tradutora e jornalista espanhola Pilar del Rio em segundas núpcias, tem uma filha e dois netos do primeiro casamento. Vivia na ilha espanhola de Lanzarote, nas ilhas Canárias, onde tem uma fundação com o seu nome.

Saramago será sempre "uma referência"    nacional - disse Presidente da República Portuguesa. 


O Presidente da República recordou José Saramago como um “escritor de projecção mundial”, sublinhando que o Nobel português “será sempre uma figura de referência da cultura nacional. Escritor de projecção mundial, justamente galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência da nossa cultura”, refere o chefe de Estado, numa mensagem de condolências à família do escritor, enviada à comunicação social.

“Em nome dos Portugueses e em meu nome pessoal, presto homenagem à memória de José Saramago, cuja vasta obra literária deve ser lida e conhecida pelas gerações futuras”, sublinha o Presidente, endereçando condolências à família do escritor.

O Ministro da Cultura do Brasil lamentou a morte de José Saramago. 

O ministro da Cultura do Brasil, Juca Ferreira, divulgou na manhã de hoje uma nota oficial lamentando a morte do escritor português José Saramago.

Aquele responsável refere que José Saramago mantinha relações privilegiadas com o Brasil e esteve presente em diversos eventos literários no país, onde se tornou muito popular, mesmo antes de ter sido galoardoado com o Prémio Nobel.

" A sua perda é recebida com muita tristeza, particularmente pelos que têm apreço pela língua portuguesa e pela sua importância cultural em tantos continentes. O Ministério da Cultura do Brasil soma-se aos que lamentam e manifestam a sua dor pela perda desse grande escritor"   - diz a nota.

A escritora Nélida Piñon representou ABL nos funerais de Saramago

A Académica, que está em Espanha, foi designada para representar a Academia Brasileira de Letras na despedida do autor




Selma Calasans Rodrigues, enquanto Professora de Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, teve ocasião de conhecer pessoalmente Saramago quando das suas frequentes palestras no Brasil, que sempre lotavam os auditórios, e com ele falar da importância da literatura Portuguesa e do grande impacto que José Saramago tem no Brasil, tal como, já antes, Fernando Pessoa. Neste momento de ausência de José Saramago, Selma Calasans Rodrigues dá-nos este testemunho, que a seguir publicamos:










Ars longa,vita brevis*Adeus Saramago!
Hoje estamos de luto. As personagens de nossa peça teatral decidem inesperadamente fechar a cortina e terminar mais um ato. Por sorte, não nos deixam de mãos vazias. Personagens como José Saramago nos deixam plenos, suas obras nos acompanharão e nos inseminarão sempre.
Comecei por conhecer Saramago, ou seja, sua obra nos Estados Unidos, pela mão de Emir Rodríguez Monegal, professor em Yale, especialista em Jorge Luís Borges. Ele me entregou o Memorial do convento e disse-me que lesse, que era uma obra muito especial. De fato li e fiquei encantada com aquela história inesperada, narrada num estilo também inédito.
Encantou-me a verdade da construção de um convento, as pedras imensas carregadas por aquelas personagens que geralmente não têm lugar na História oficial. Senti que Saramago queria dar voz a eles a esses representantes dos 20 000 trabalhadores que construíram o convento de Mafra. Outras personagens se entrelaçam: Bartolomeu Lourenço (ou Gusmão) que constrói um sonho: a passarola voadora. A história que mais nos encanta é a do amor de Baltazar e Blimunda que se entrelaça na outra. A música de Domenico  Scarlatti completa esse imenso painel  que revela os segredos de uma época repressiva. Histórias de desejo e de luta, muita luta para tentar a realização dos mesmos.
Depois do Memorial do Convento li muitos outros romances de Saramago, dos quais destaco O ano da morte de Ricardo Reis, que também me encantou, Todos os nomes, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a cegueira e outros . Não gostei de todos com a mesma intensidade. Confesso que os dois primeiros citados são os preferidos.
Tenho ainda obras a ler, de Saramago, seus últimos romances, mas tenho sobretudo a convicção de que um autor vale, sim, pelo conjunto de sua obra que se avalia quando está "  completa".  Mas vale, sobretudo, por aqueles momentos inesquecíveis, de verdade e de poesia : Blimunda e Baltazar Sete-Sóis…
*Versão latina da frase famosa de Hippocrates
  Selma Calasans Rodrigues 
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Um avião do Governo português foi a Lanzarote para recolher o corpo de José Saramago que foi velado na Biblioteca de Lanzarote que tem o seu nome, e foi transportado depois para a capital portuguesa onde foi realizada uma cerimónia fúnebre.
No avião, viajou a ministra da Cultura Gabriela Canavilhas. De Madrid viajou para Lanzarote o embaixador português. 
José Saramago foi cremado em Lisboa e as cinzas ficarão, parte em Portugal e parte em Lanzarote.

ATÉ SEMPRE SARAMAGO ! NOS REENCONTRAREMOS EM TEUS LIVROS E CONTIGO CONTINUAREMOS A DIALOGAR - MESMO COM OBJEÇÕES OU QUESTIONAMENTOS A ALGUMAS DAS TUAS PARÁBOLAS - PORQUE O TEU PENSAMENTO E EXPRESSÃO TÃO LIVRE, COMO O VENTO, HÁ-DE ILUMINAR E AFAGAR SEMPRE TODOS OS DIÁLOGOS COM QUEM NÃO SOFRE DAQUELA "CEGUEIRA" - A DA MENTE, QUE É A MAIS OBSCURA DE TODAS !

ATÉ SEMPRE, SARAMAGO ! PORQUE NOS HÁS-DE QUESTIONAR ATÉ À ETERNIDADE, QUE CONQUISTASTE, PORQUE DA LEI DA MORTE TE LIBERTASTE! 



AQUI, NESTE ESPAÇO LIVRE TE RENDEMOS A NOSSA SINGELA HOMENAGEM. 

     
Texto e pesquisa de internet
Carlos Morais dos Santos
Professor Universitário (APos.)
Cônsul (Lisboa) M.I. Poetas Del Mundo
Escritor-ensaísta, poeta, fotógrafo
Texto testemunhal
Selma Calasans Rodrigues
Professora Universitária (Apos.)
Escritora-ensaísta, investigadora

 

 

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