sexta-feira, 10 de setembro de 2010

HISTÓRIA DAS COISAS - Ou a falência e perversidade do Modelo Económico que nos rege. Por Carlos Morais dos Santos


HISTÓRIA DAS COISAS
Há muito que sabemos que o modelo de desenvolvimento que ainda nos rege hoje em dia, tem vindo, progressivamente, a condenar a viabilidade de um desenvolvimento humano económico e social equilibrado e sustentável, a bem de uma vida melhor para toda a humanidade e da proteção de todos os eco-sistemas naturais que preservem toda a biodiversidade da nossa Casa Mãe – o planeta Terra.
Os graves desníveis e desvios que cada vez mais se acentuam entre regiões e populações do mundo e entre os diferentes macro e micro sistemas naturais do planeta que habitamos, resultam da tragédia da humanidade ter continuado a ser governada pelo mesmo modelo económico e político que saiu da revolução industrial, modelo que vem conservando a sua essência básica original – "crescimento" em vez de "desenvolvimento e aperfeiçoamento qualitativo" – quc conseguiu uma crescente submissão do político ao económico, primeiro, e do económico ao financeiro, depois. O Estado foi, assim, ficando arredado das suas funções de regulação das actividades económicas e financeiras e foi perdendo a sua representatividade dos legítimos interesses públicos.
Este modelo cada vez mais acentuou o predomínio dos mais importantes e ricos países que conduziram a revolução industrial, ou que cedo a esta aderiram com vigor, sobre os outros países que conservaram a sua principal base económica na agricultura de subsistência, o que veio a cavar verdadeiros abismos de injustiça e de marginalização colocando cada vez mais  estes últimos países na situação de reféns do poder adquirido pelos primeiros, apesar de, em muitos casos, serem esses países marginalizados os detentores de recursos naturais muito superiores.
Mesmo considerando as grandes conquistas do conhecimento humano em ciências e tecnologias que a evolução do modelo saído da Revolução Industrial tem proporcionado, é verdadeiramente espantoso como toda essa “inteligência acumulada” não permitiu as novas e necessárias formulações de "Desenvolvimento Humano Sustentável", a bem dos equilíbrios entre regiões e populações do mundo e da preservação do planeta.
De facto, o modelo da Revolução Industrial tem atravessado mais de dois séculos conservando a sua trajectória quase linear, como se o processo pudesse desenvolver-se "ad infinito", consumindo recurssos finitos – isto é, produção de cada vez mais bens transacionáveis e bens imateriais – crescimento – sem preocupações ambientais, nem evitando a exaustão dos recursos naturais , nem a cada vez maior marginalização desses bens a cada vez mais vastas populações do planeta que, ao invés, pioraram a sua situação pelo abandono das suas próprias economias tradicionais, principalmente a agrária e pastorícia de subsistência, em parte por as suas ricas terras continuarem “neo-colonizadas” pelas grandes corporações empresariais dos países ricos, que estão mais interessados na “rapina” de suas riquezas minerais e na exploração agro-pecuária intensiva e extensiva operada pelas suas empresas multinacionais, e quase nada fizeram para incluir esses mesmos países nos processos de modernização e desenvolvimento.
A manutenção do Modelo da Revolução Industrial, que apenas se foi sofisticando na modernização dos processos, limitou-se a servir de base à acumulação privada das riquezas, em detrimento dos interesses públicos, com cada vez menos regras reguladoras e maior liberalização de todas as actividades, em obediência às selváticas “Leis do Mercado”, espécie de “entidade abstracta mas toda poderosa” em que a total liberdade sem responsabilidade social veio a permitir que todos os poderes dependessem das grandes redes de corporações empresariais privadas.
A prevalência e manutenção deste modelo, que foi avançando com o processo de apropriação do público pelo privado, limitou a “evolução” apenas à introdução de alterações nos processos produtivos, para assegurar as passagens da mecanização para a robotização e para a miniaturização, primeiro com os transístores e, depois, com os sistemas computacionais, estes últimos que permitiram a revolução global das comunicações e a globalização das complexas redes empresariais e de toda a economia, mundializando o capitalismo sem rosto, e desigando superlativamente este fenómeno, pelo eufemístico qualificativo de "Globalização", que apenas beneficia a pequena parte do mundo rico, à custa do mundo pobre, ficando os poucos ricos ainda mais ricos e ainda mais pobres os muito pobres.
Este caminho, mais fácil e propício à manutenção dos poderes instituídos, foi abrindo cada vez mais espaço para a constituição de intocáveis monopólios, oligopólios e conglomerados, impondo uma tecnocracia poderosa e um capitalismo ultra-liberal, frequentemente ganancioso, especulativo e rapineiro, conduzido por cleptocratas sem escrúpulos e sem medo, por estarem protegidos pelos poderes políticos instituídos que os servem, apesar de cada vez um maior número de nações se terem convertido aos regimes democráticos, em que as jovens democracias são, em muitos casos, meramente formais e foram, na maior parte dos casos,  artificialmente estimuladas por interesses privados externos para mais facilmente "(en) cobrirem" as novas formas desses “neo-colonialismos".
Em resumo, enquanto se mantiver este modelo económico - político, maiores vão sendo os abismos de injustiça social, maiores os desníveis de desenvolvimento entre regiões e populações do mundo, maiores e mais devastadoras serão as misérias humanas, maior será o empobrecimento de uma economia produtiva e real, produtora de riqueza justa, em bens necessários às necessidades de Desenvolvimento Humano, circulando livremente em "comércio justo", sem o esbanjador consumismo, isto é, que resulte da transformação de matérias-primas adquiridas por processos de apropriação legais, justos e sustentáveis, em respeito pela reconstituição da natureza e pelos equilíbrios dos seus eco-sistemas, de forma ecologicamente responsável e colocados num mercado de economia social, através de um livre e justo comércio aberto igualmente a todas as nações.
Sobre a incapacidade deste perverso modelo em garantir o desejado Desenvolvimento Humano Integral, justamente partilhado pela humanidade e inteligentemente sustentável pelo usofruto das riquezas naturais em respeito pela preservação do planeta, e sobre a urgente necessidade de implementação de um Novo Modelo que assente em novos, justos e diferentes paradigmas, já muito foi dito, escrito e reivindicado mas, por certo, não tão fortemente e em tão inteligente síntese do que é  o poderoso documento de denúncia divulgado e promovido pela mais vasta e democrática rede informal de comunicação global – a internet - e que a seguir apresentamos.
Veja-se  o link para a visualização desse poderoso documento – vídeo – que, tendo sido produzido nos EUA com o nome de STORY OF STUFF, se apresenta aqui na sua versão brasileira em língua portuguesa – A HISTÓRIA DAS COISAS. 
Carlos Morais dos Santos

1 comentário:

  1. INCRÍVEL!!! Esta foi a maior demonstração do desastre que vem se avolumando cada vez mais. O grande problema continua sendo a conscientização da massa populacional do planeta. Tomara que tal aconteça, que isso seja solucionado - ou pelo menos amenizado! E o mais rápido possível! Mais uma vez parabéns, Seareiro, pela iniciativa de nos mostrar essa barbárie que vem se perpetuando. Façamos a parte que nos cabe, denunciando sempre, mas, principalmente, consumindo menos, mormente quando o bem é supérfluo...

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