domingo, 10 de julho de 2011

STANDARD & POOR'S MANTEM "RATING" DE PORTUGAL, MAS A AGÊNCIA MOODY'S REBAIXOU PORTUGAL AO NÍVEL DE "LIXO". AFINAL, ONDE ESTÁ O LICHO? EM PORTUGAL OU NA CORRUPTA MOODY'S ?

QUEM É QUE É MESMO O LIXO? OS PAÍSES E AS EMPRESAS E INSTITUIÇÕES AVALIADOS PELA MOODY'S, OU ESTA AGÊNCIA É QUE É LIXO TÓXICO QUE DEVERIA SER REMOVIDO DO MERCADO ?

QUAL É A CREDIBILIDADE E O RESPEITO QUE PODEM MERECER ESTAS AGÊNCIAS DE RATING, DESIGNADAMENTE A MOODY´S, QUE ÀS VÉSPERAS DA FALÊNCIA FRAUDULENTA DA TRISTEMENTE FAMOSA LEHMON BROTHERS NORTE AMERICANA, AINDA LHE ATRIBUÍA A MAIS ELEVADA AVALIAÇÃO DE TRIPLO A- AAA?


Notícia da imprensa:
"A agência de rating Standard & Poor's mantém a opinião e os números relativos a Portugal, que deve conseguir baixar o défice público até 3% do produto interno bruto em 2013 e sairá da recessão em 2013 com um crescimento de 1%.

Ao Diário de Notícias/Dinheiro Vivo, o porta-voz da agência de rating, Martin Winn, disse que a análise de 16 páginas divulgada em Maio continua válida. Ela “resume a nossa opinião sobre Portugal. Não temos mais comentários a fazer nesta altura – e não comentamos as decisões relativas ao rating tomadas pelo nosso concorrente [Moody’s]”, acrescentou.

Em Maio, a Standard & Poor's  manteve o rating soberano em BBB-, ou seja, manteve a dívida nacional num nível de investimento ainda considerado sólido".

ESTA É A POSIÇÃO NESTE MOMENTO DA AGÊNCIA DE RATING STANDARD & POOR'S. A PERGUNTA QUE SE FAZ, A JULGAR PELO COMPORTAMENTO PASSADO É: ATÉ QUANDO? 

TRÊS AGÊNCIAS DE RATING NORTE AMERICANAS, CONCENTRAM 95% DO MERCADO DE "RATING", ISTO É, REPRESENTAM UM OLIGOPÓLIO, QUASE MONOPÓLIO NORTE AMERICANO QUE SE AUTO INVESTIRAM DO PODER DE AVALIAR A CAPACIDADE DE ENDIVIDAMENTO E O VALOR DE PAÍSES, EMPRESAS, INSTITUIÇÕES, DETERMINANDO LEONINAMENTE AS TAXAS DE JUROS DO MERCADO FINANCEIRO MUNDIAL.


Este mecanismo sem rosto, sem regulação, sem controlo sobre estas agências de rating, que determinam a "vida e morte" de instituições e empresas, mas que niguem escrutina e avalia, é uma das facetas mais pérfidas do capitalismo financeiro selvagem neoliberal que tem vindo a corroer a economia real do mundo - a verdadeira economia produtora de de bens e serviços criadora de emprego e riquesa - e a sequestrar governos, governantes, empresários e líderes que, sem revolta e até alguma cumplicidade, têm vindo a ficar passivamente refens deste capitalismo de casino e mafioso que se esconde por detrás destas agências de rating de que são, afinal, os seus principais financiadores mas não mandantes.  Outros sim, são os seus verdadeiros donos-acionistas.


Países e estados-nações antigos e de honrosa história, como Portugal, ficam à mercê de todas as manobras de ataques especulativos das grandes centrais financeiras mundiais - em que um dos mais poderosos e infestados centros é a famosa "Wall Street" de Nova Yorque -   ficando as suas economias sujeitas a descalabros que contaminam outras economias mais frágeis, podendo atingir proporções regionais - como é agora o caso da UE - saldando-se estes verdadeiros actos de terrorismo financeiro por falências, desemprego e todas as misérias associadas, enquanto que os "mandantes" destas manobras vão enriquecendo sem mérito e trabalho à custa das desgraças que provocam, como aves de rapina que só se alimentam da carne em decomposição, das suas vítimas recem-abatidas.


E, assim, estas poderosas agências de Rating vão "ditando" as avaliações de países, empresas e instituições do mundo, como sendo "Supremos Tribunais Mundiais" com poderes indiscriminados e não regulados para sentenciarem à ruína países e instituições, quando não passam de escritórios privados, de técnicos de análise financeira, pagos pelos governos, instituições e empresas de todo o mundo, que em muitos casos acabam vítimas das suas avaliações. 

Estas agências não têm nenhuma autoridade legal democraticamente outorgada pelos "Nações Unidas" ou outro Forum representativo mundial. É claro que por detrás dos estados, instituições e empresas contribuintes destas agências, se escondem outros poderosos "patrões" do capitalismo financeiro mundial que se servem destas agências - de que são acionistas - para construirem os seus impérios à custa da desregulação e do caos financeiro que provocam em países de economias mais frágeis, tornando-se em alvos mais fáceis aos seus ataques especulativos, quer sejam pelo lado da fragilização das moedas, quer seja pelo lado da "bancarrota" causada nas Bolsas de Valores, com enormes golpes financeiros de entradas de capital na procura e compra em baixa, causando inflação de valores, que a seguir vendem em alta, para depos, repentinamente, abandonarem, desvalorizando as empresas e instituições e suscitando o crescimento de enormes dívidas públicas e privadas, que se propoem depois financiar (através de bancos, FMI, etc.), ajuros altíssimos, inflacionados pelas mesmas agências de rating. É este o ciclo criminoso e infernal que este capitalismo financeiro tem vindo a provocar, atacando também outras moedas, como é o caso agora do Dollar debilitado que ataca o Euro valorizado, com intenção de o enfraquecer.


Hoje em dia o controlo e domínio mundial financeiro está também muito ligado ao domínio da comunicação social, criando ofensivas em várias frentes em que, por um lado, se usam instrumentos de manipulação financeira como as agências de rating e outras instituições financeiras só aparentemente respeitáveis, por outro, se usam os meios de comunicação de massas e os audio-visuais em geral, para manipular e formatar a opinião pública mundial. Veja-se a rapidez e subtileza, sem aparentes reclamações e contestações, com que a mais tenebrosa fraude financeira da história da humanidade, desencadeada a partir dos EUA se transformou adjectivamente na designação eufemística de "crise mundial", expressão vaga e algo culposa não dos responsáveis pela fraude, mas dos países e populações que, sendo vítimas, acabaram sendo responsabilzados por "viverem acima das suas possibilidades", endividando-se mais do que podiam, quando a isso foram compelidos e arrastados pelo próprio pérfido sistema financeiro!


Para suportar esta análise, limito-me a relembrar dois indicadores que mostram bem de onde veio a grande fraude e de como e porquê ela se transformou em crise mundial em que as vítimas passaram a culpados: Por um lado, as três Agências de Rating norte-americanas que têm estado a manipular a avaliação da economia mundial - Moody's, Standard & Poor's e Fitch - concentram 95% do mercado de rating mundial; Por outro lado, o mercado mundial de audio-visuais (imprensa, TV, rádio, editoras, internet, satélites de comunicações, etc.) é detido directa e indirectamente em cerca de 90% pelo capital financeiro norte americano. Com estas duas poderosas armas/instrumentos, é fácil perceber de onde pode formar-se os terríveis golpes financeiros mundiais, verdadeiros Tsunamis que varrem e destroem a economia mundial a favor do capital financeiro especulativo e não produtor e distribuidor justo de riqueza para o mundo.
 

Em síntese, esta chamada "crise económica mundial", melhor seria designada por "tsunami da maior fraude financeira global da história", não foi, portanto, uma crise económica, mas sim uma gigantesca fraude financeira que, em consequência, envenenou a economia global, por ter  "encharcado" os bancos e as Bolsas de Valores de todo o mundo com "falsos produtos financeiros do sub-prime" do chamado, esse sim, "lixo financeiro tóxico"!


Outra questão curiosa que se pode colocar em apoio ao que acabo de acima concluir é a seguinte:
Qual tem sido a avaliação dessas três Agênncias de Rating em relação aos EUA, à sua economia e ao estado da dívida norte americana e muitas das suas instituições e empresas multinacionais? Até aqui a resposta tem sido a de avaliações de triplo A, isto é, AAA, que significa a pontuação de confiança máxima e de solidez financeira. Ora, como se sabe, não é essa a situação dos EUA, bem pelo contrário, as finanças e a economia da grande e poderosa nação americana estão em grande desequilíbrio com uma gigantesca dívida externa, das maiores do mundo, com uma economia  parcialmente em colapso, altos índices de desemprego, empobrecimento grave de vastas camadas da população, vários sectores empresariais em grave crise de insolvência e falência, sectores industriais tecnologicamente ultrapassados e em decadência, etc.etc.   


Ainda recentemente, a agência de rating chinesa Dagong acusou as rivais norte-americanas (Standard&Poor’s, Moody’s e Fitch) de estarem a cometer o mesmo erro que levou à crise financeira mundial, em 2008, ao se recusarem a fazer um downgrade no rating dos EUA apesar do «estado de insolvência e das crescentes dificuldades do país em pagar a dívida» da maior economia mundial.

Em declarações ao semanário português SOL, Chen Jialin, director-adjunto do departamento internacional da Dagong, refere que as três maiores agências mundiais de notação de crédito apenas lançaram os avisos recentes sobre a elevada dívida dos EUA devido «à pressão da opinião pública» e não por sua vontade.
Só agora a Standard&Poor’s colocou o rating dos EUA em ‘vigilância negativa’ – o primeiro passo para uma eventual descida da notação – no mês passado, surpreendendo os investidores internacionais. Os EUA ainda mantêm a classificação máxima – AAA – junto da S&P, Moody’s e Fitch, o que indica que o país tem uma hipótese quase nula de entrar em incumprimento junto dos credores.


Porém, a folha financeira dos EUA está longe de ser exemplar. O Estado tem um défice orçamental superior a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e uma dívida pública que ronda 100% do PIB, que cresce abaixo de 2%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o secretário do Tesouro, Timothy Geithner reiteraram esta semana que, se o tecto da dívida nos EUA não for aumentado pelo Congresso – de maioria republicana –, o país corre o risco de entrar em incumprimento em Agosto.

Numa primeira fase, a Dagong fez um downgrade do rating dos EUA, do nível máximo, AAA, para AA, devido à inexistência de uma «solução credível» para a resolução do défice orçamental no longo prazo, que estava a levar o país para um «crise da dívida», adianta o responsável.
A decisão da FED, o banco central norte-americano, de injectar mais de 600 mil milhões de dólares na economia através da emissão de moeda, em Novembro de 2010, reflectiu o «colapso do estado de solvência dos EUA e a deterioração da capacidade de pagar as suas dívidas», salienta a agência chinesa. Este evento levou a Dagong a fazer um novo corte na notação dos EUA, para A+. 

AS DEMOCRACIAS PODEM E DEVEM SER LEGITIMAMENTE AUTO-REGULADAS PELAS SUAS INSTITUIÇÕES REGULADORAS DEMOCRATICAMENTE ELEITAS E ESCRUTINADAS PARA DISPENSAREM A EXISTÊNCIA DESTAS ORGANIZAÇÕES PÉRFIDAS, CORRUPTAS E PARASITÁRIAS QUE NÃO SÃO REPRESENTATIVAS DE NADA A NÃO SER DOS INTERESSES OBSCUROS QUE AS COMANDAM. 

CONCRETAMENTE A U.E. DETEM OS SEUS PRÓPRIOS ORGÃOS OFICIAIS DE SUPERVISÃO E AVALIAÇÃO DOS SEUS PAÍSES MENBROS, COM ELEVADA COMPETÊNCIA, E NÃO CARECEM DE CONTINUAR A PAGAR E A DEPENDER DESTAS "MERCENÁRIAS" AGÊNCIAS DE RATING.
 
POR TUDO ISTO, DEVEMOS PROCLAMAR EM TODA A PARTE DESTE MUNDO AS AGÊNCIAS DE RATING COMO LIXO TÓXICO PERIGOSO, ILEGAL E CRIMINOSO CONTRA A ECONOMIA E A HUMANIDADE!

POR ÚLTIMO, OCORRE-ME RELEMBRAR AQUI, PARTE DO EXCELENTE E LÚCIDO ARTIGO DO PRESTIGIADO JORNALISTA PORTUGUÊS ALFREDO BARROSO, QUE O PRO-CIVITAS PUBLICOU NA ÍNTEGRA EM  23 DE ABRIL DE 2011.
Carlos Morais dos Santos











O TRIUNFO DOS AGIOTAS - UMA HISTÓRIA DE GANGSTERS
Por Alfredo Barroso


... " É verdade o que diz Jean-Claude Trichet, presidente do BCE: «Os bancos teriam todos desaparecido se nós não os tivéssemos salvo». Mas o paradoxo é evidente: os Estados endividaram-se para evitar o colapso dos bancos, mas agora são os bancos que impõem aos Governos a adopção de políticas de austeridade brutais, que podem conduzir ao colapso dos Povos e dos Estados. Para tanto, socorrem-se das já famosas agências de rating, que «espancam» os Governos até estes atirarem «a toalha ao chão».

3. «GANGSTERISMO». Parece-me ser a expressão mais adequada para descrever a actividade das agências privadas de qualificação de riscos, mais conhecidas como agências de rating. Trabalham para quem lhes paga, sobretudo os bancos, proporcionando aos especuladores financeiros, e aos investidores oportunistas de alto calibre, juros sempre mais elevados para os seus empréstimos. Para tanto, «sovam» os Governos de vários países em sérias dificuldades económicas e financeiras, até eles não aguentarem mais «espancamentos». E se continuarem a resistir, apontam-lhes uma «pistola» à cabeça e ameaçam: «Ou cedes ou morres de bancarrota»! As agências de rating são, assim, uma espécie de gangsters ao serviço da agiotagem.

Apesar da veneração que suscitam entre os economistas e jornalistas especializados ao serviço do capital financeiro, as agências de rating não são entidades de direito divino. De facto, são empresas privadas ao serviço de interesses privados, que acumulam já, ao longo da sua história, muitos casos de manifesta incompetência, escandaloso favoritismo e oportunismo irresponsável. Além disso, não são avaliadas nem fiscalizadas por qualquer entidade reguladora e, ainda por cima, funcionam praticamente em regime de oligopólio: apenas três agências - Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch - repartem entre si mais de 95 % do mercado e as duas primeiras quase 80 %. Para já nem falar dos óbvios conflitos de interesses em que incorrem.

O actual Presidente da República, Cavaco Silva, gostaria de impor um silêncio patriótico aos políticos e comentadores (infelizmente, poucos!) que criticam as agências de rating. Todavia, abundam os casos em que elas contribuíram para agravar as crises. Vejamos dois exemplos recentes.
Desde logo, o caso do magnata Bernard Maddoff, sem dúvida um dos maiores vigaristas do século, que exibia, no cartão de apresentação da sua entidade financeira, um rutilante triplo A (AAA), que é a classificação positiva máxima atribuída pelas agências de rating. Foi parar à cadeia.
Depois, o caso das famosas hipotecas subprime e dos tão sofisticados como «tóxicos» produtos financeiros que ajudaram a fabricar, que incluíam nomeadamente títulos de dívida (obrigações) do Lehman Brothers. Todos eles beneficiaram também de um rutilante triplo A. Mas foi precisamente a falência do Lehman Brothers que desencadeou a gigantesca crise financeira de 2008, nos EUA, que depois alastrou à Europa, e cujas consequências ainda hoje estamos a sofrer. Vale a pena lembrar aqui uma passagem do relatório final da Comissão de Investigação do Congresso dos EUA que foi constituída para apurar as causas da grave crise financeira. Reza assim:
«Concluímos que os erros cometidos pelas agências de qualificação de riscos (agências de rating) foram engrenagens essenciais na maquinaria de destruição financeira. As três agências foram ferramentas chave do caos financeiro. Os valores relacionados com hipotecas, no coração da crise, não se teriam vendido sem o selo de aprovação das agências. Os investidores confiaram nelas, na maioria dos casos cegamente. (…) Esta crise não teria podido ocorrer sem as agências de rating. As suas qualificações (máximas) ajudaram o mercado a disparar, e quando tiveram de baixá-las (até ao nível de «lixo»), em 2007 e 2008, causaram enormes estragos».

O relatório salienta que a Moody’s - que em 2006 foi uma autêntica fábrica de atribuição de classificações máximas a títulos hipotecários - deve ser considerada como um case study sobre as más práticas que provocaram a crise. De facto, entre os anos 2000 e 2007, a Moody’s considerou como de máxima solvência (AAA) nada menos do que 45.000 valores relativos a hipotecas. O relatório refere a existência de modelos de cálculo desfasados, as pressões exercidas por empresas financeiras e a ânsia de ganhar quota de mercado que se sobrepôs à qualidade das qualificações atribuídas.
Mas, apesar destas conclusões devastadoras para a credibilidade das agências de rating, estas não hesitaram em aumentar os salários e prémios dos seus executivos, já depois de conhecido o relatório. O caso da Moody’s foi o mais escandaloso. O seu presidente executivo, Raymond Mc Daniel, recebeu em 2010 um aumento de 69 % do seu salário anual, que trepou até aos 9,15 milhões de dólares (cerca de 6,4 milhões de euros). Um motivo invocado, entre outros, foi o facto de ter ajudado a «restaurar a confiança (!) nas qualificações atribuídas pela Moody’s Investors Service, ao elevar o conhecimento sobre o papel e a função dessas qualificações».

Raymond Mc Daniel foi chamado a testemunhar perante a Comissão de Inquérito acompanhado pelo principal accionista da Moody’s, Warren Buffet. Mas este lavou as mãos, como Pilatos, declarando que não fazia a menor ideia sobre a gestão da agência, e que nunca lá tinha posto os pés. Explicou, no entanto, que tinha investido na empresa porque o negócio das agências de rating era «um duopólio natural, o que lhe dava um incrível poder sobre os preços»! Na transcrição do depoimento de Raymond Mc Daniel perante a Comissão de Inquérito do Congresso também surge uma declaração surpreendente. Disse ele: «Os investidores não deveriam confiar nas qualificações (das agências) para comprar, vender ou manter valores»! Não foi ingenuidade. Foi insolência e hipocrisia. Infelizmente, em relação a Portugal, ninguém seguiu o conselho deste senhor Raimundo…

4. PORTUGAL. Cumpriu-se o fado. O destino marca a hora. Como na famosa canção de Tony de Matos: «Se o destino nos condena / Não vale a pena / Lutarmos mais». Portugal foi «sovado» pelas agências de rating até à exaustão. Estava marcado para «morrer de bancarrota» se não cedesse às exigências do capital financeiro. No dia 5 de Abril de 2011, o «Jornal de Negócios» noticiava: «Bancos cortam crédito ao Estado». E explicava: «Os banqueiros reuniram-se ontem no Banco de Portugal. Não vão financiar mais o Estado. Querem um pedido de ajuda intercalar de 15 mil milhões – e já! O Governo tem de pedir e o PSD e o PP têm de subscrever».
«E já!». Perceberam? Foi assim, sem qualquer pudor, que o ultimato foi anunciado, que a «pistola» foi apontada à cabeça da vítima que já estava na fila de espera para ser «garrotada» pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Cerca de 24 horas depois, já tínhamos direito a ouvir o sr. Olli Rehn (criatura finlandesa em quem não votámos e que fala inglês aos soluços) a explicar à Europa e ao Mundo o que é bom para Portugal - e não necessariamente para a grande maioria dos portugueses. Olli Rehn é comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários. Trabalha, portanto, sob a direcção (!?) do sr. Durão Barroso, ex-presidente do PSD e ex-primeiro-ministro, que foi «sovado» pelo PS (de Ferro Rodrigues) nas eleições europeias de 2004 e que, a seguir, abandonou o Governo que chefiava «com o rabo entre as pernas», pouco depois de ter prometido ao país que não o faria, para ir ocupar em Bruxelas o cargo de presidente da Comissão Europeia, que lhe foi oferecido pela direita.

Como escreveu Pierre Bourdieu há onze anos: «Temos uma Europa dos bancos e dos banqueiros, uma Europa das empresas e dos patrões, uma Europa das polícias e dos polícias, teremos em breve uma Europa das forças armadas e dos militares» (esta está quase!). Infelizmente, ainda não existe um movimento social europeu unificado, capaz de reunir diferentes movimentos, sindicatos e associações de diferentes naturezas, e capaz de resistir eficazmente às forças dominantes, a essa «Europa que se constrói em torno dos poderes e dos poderosos e que é tão pouco europeia».

Ao contrário do que algumas vozes bem intencionadas andaram a  proclamar, a gravíssima crise económica e financeira desencadeada pelas más práticas do hipercapitalismo não deu origem a um «novo paradigma». Paralisada (e neutralizada) pelas sucessivas concessões que fez à doutrina neoliberal, a social-democracia europeia assiste, política e ideologicamente desarmada, ao que alguns já designam como «nova contra-revolução social thatchero-reaganiana». Até onde poderá ela ir? Nesta verdadeira guerra dos «mercados» contra os Estados, foi manifesta a incapacidade dos europeus para definir uma estratégia progressista comum para enfrentar a crise. Isso foi perfeitamente percebido pelos «mercados», que decidiram aproveitar essa sua vantagem para atacar frontalmente os Estados mais frágeis, com o objectivo de desregular ainda mais os mercados internos e de exigir mais privatizações. E é exactamente isso que está a acontecer aqui e agora.

A estratégia europeia de saída da crise mundial é clara: desregulação dos mercados de trabalho, deflação salarial, desemprego estrutural, menor protecção no emprego, restrições orçamentais, privatizações em massa, etc. É uma estratégia aparentemente paradoxal, que torna ainda mais vorazes os «mercados», que exigem sempre tudo e nunca se sentem saciados. Mas é também uma estratégia fundamentalmente recessiva, que pode provocar um aumento significativo das reivindicações sociais e políticas. «Neste braço-de-ferro, o estatuto do euro é um teste definitivo», dizem os entendidos. E a questão está em saber se «será, finalmente, posto ao serviço da promoção de um modelo social sustentável» ou «irá tornar-se o vector da destruição do que resta do Estado de bem-estar europeu». Os exemplos da Grécia, da Irlanda e de Portugal não auguram nada de bom para o Estado social.

Como já se noticia, a «ajuda» financeira do FEEF e do FMI servirá, essencialmente, para Portugal «pagar o que deve aos credores, sobretudo bancos estrangeiros que, ao longo de décadas, foram fornecendo fundos aos bancos nacionais e que estes depois canalizavam para a compra de casas, carros e créditos às empresas» («DN», 08/04/2011). Para além de cortes em salários, pensões, subsídios de desemprego e outras prestações sociais, fala-se em «reformas mais profundas do mercado de trabalho, menor protecção no emprego, maior abertura da Educação e da Saúde aos privados, subida dos impostos». (O dr. Passos Coelho deve estar radiante!). Também se diz que «mal as condições melhorem, o Estado deve começar a sair (privatizar) das empresas de transportes. Casos da ANA, TAP, CP, Refer, Carris, Metro de Lisboa e do Porto». Não haverá mais nada para privatizar? Claro que há! Um Estado bem desmantelado dá para enriquecer vários oligarcas.

Enfim, temos este país pronto a morrer da cura. Graças ao «trabalho sujo» das agências de rating (os «gangsters» desta história) ao serviço dos «mercados» (os agiotas). Mas também graças aos «bons ofícios» do actual Presidente da República, à «ansiedade do pote» de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, e ao extraordinário «sentido de oportunidade» de Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã. Sem esquecer as evidentes responsabilidades de José Sócrates, que não resistiu às sucessivas concessões que foi fazendo ao «blairismo» e ao «neo-centrismo», ou seja, à doutrina neoliberal.

Observação final. Várias são as vozes que afirmam que o FMI não é nenhum papão e não mete medo a ninguém, porque já cá esteve no século passado e tudo correu às mil maravilhas. É quase verdade, mas esquecem-se de um pequeno pormenor que faz toda a diferença: é que, quando o país sair exausto e exangue dos próximos anos de brutal austeridade, não haverá mais uma CEE à nossa espera para «inundar» Portugal com as «catadupas» de fundos comunitários que fizeram a felicidade do cavaquismo!"
 
                                             ALFREDO BARROSO (*)      
 9 de Abril de 2011
*Alfredo Barroso é licenciado em Direito,
é jornalista, analista e comentador político de prestígio. 
     

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