quarta-feira, 20 de outubro de 2010

QUANDO A DISPUTA POLÍTIA – PARTIDÁRIA SE DECIDE ENTRE SEMELHANTES A DEMOCRACIA EVOLUI MAIS LENTAMENTE NO SEU APROFUNDAMENTO E AMPLITUDE E TENDE A EMPOBRECER.














É sabido que nos países em que as disputas políticas pela governação se posicionam sempre, ou quase sempre, numa alternância governativa bipolar entre dois partidos ideologicamente semelhantes ou que se assemelham na prática governativa quanto às grandes opções programáticas, a evolução e aprofundamento da democracia é mais lenta e tende a empobrecer, sem que essa alternância política  bipolar abra a possibilidade de o eleitorado vir a eleger outras vias democráticas ideologicamente distintas.
Normalmente o que acontece é a repetição de “mais do mesmo” com algumas pequenas variações que dependem mais dos estilos e personalidades dos diferentes governantes que se vão sucedendo, do que, propriamente, das suas diferentes mas semelhantes, origens partidárias. As grandes mudanças de paradigmas raramente acontecem, verificando-se apenas que uns colocam o assento tónico das suas opções mais à direita e outros mais à esquerda mas, como dizia a figura do príncipe na obra de Lampedusa – Gatopardo – para manter o povo satisfeito “é preciso mudar alguma coisa para ficar tudo na mesma”…!

No caso da esmagadora maioria das democracias atuais, muda-se aqui e acolá algumas coisas, mas a essência de um neo-capitalismo financeiro perverso, ganancioso, sem controlo, oligárquico, muitas vezes rapineiro, corrupto, cleptómano, oportunista, sem responsabilidade social, continua a sequestrar a economia e o próprio estado que, em muitos casos, é refém e serventuário deste capitalismo desregulado que causa crises globais e cobra depois dos estados e dos seus contribuintes das classes média e baixa, a reparação dos seus próprios desvarios, para novamente se reconstruir e seguir a sua antiga rota sem  respeito pelos Valores e Direitos Humanos e dos consumidores, nem pelo planeta que vai devastando. Apesar de ser já nítida a exaustão e falência deste modelo político-económico, nada parece perturbar os seus prosélitos que seguem estas vias suicidas, não querendo sequer deixar espaço ao debate dialético de novos caminhos e modelos há muito sentidos como necessários e urgentes.       

Parece que, sobretudo nos países em que o pluralismo político - partidário está pouco polarizado e os partidos e políticos que cultivam novas opções democráticas e ideologicamente mais consentâneas com as necessidades de Um Homem Novo e uma Nova Política para o século XXI, que tenha em conta uma democracia baseada na Méritocracia e no Desenvolvimento Humano, que seja capaz de Novas Concepções de Paz e Progresso em respeito pela inclusão de todos os povos e pelo planeta, são ainda pouco consideradas por um eleitorado há muito tempo condicionado pelas escolhas do costume, sobretudo as que derivam dos poderes já incrustados pelas alternâncias bipolares e, essas novas vias e propostas, por serem mais ousadas na abordagem a uma democracia mais direta, mais representativa e de visão mais ampla e integradora de novas concepções, mais avançadas quanto às grandes questões que se colocam hoje em dia à sociedade humana e ao planeta, ainda não encontram uma literacia política suficientemente madura para vencerem como terceiras vias.

Questões como uma economia mais socialmente responsável e sustentável; livre e justo comércio; justiça fiscal, social e cívica mais igualitária e acessível; educação avançada de acesso igual para todos em todos os níveis; investigação e desenvolvimento cient+ifico ao serviço do bem comum; saúde pública de grande qualidade para toda a população; segurança social garantida; justa distribuição de riqueza produzida; comprometimento com a defesa do planeta e dos seus eco-sistemas; avaliação global de todos os impactos do desenvolvimento económico e humano, enfim, uma economia social de mercado ecologicamente sustentável e propiciadora de um desenvolvimento humano livre, igualitário e fraterno, criador de paz e de progresso sustentável, ainda não parecem ser conscientemente valorizadas por grande parte dos eleitores, mais propensos a opções pessoais pelas figuras que já conhecem da velha política, e que a força da propaganda dos partidos facilmente impõe aos eleitorados, através de sistemas de comunicação em que os “Media jogam um papel mais de procura de sensacionalismos, do que pedagogia da cidadania para os novos tempos.

As sucessivas desilusões que estas velhas formas de fazer política vão acumulando, não tanto a favor de uma elevação da “Pólis”, mas mais do aumento e conservação dos poderes estabelecidos, em que nas repúblicas democráticas, se vão esquecendo dos ideais do republicanismo – uma governação a favor da “Res – Pública”, ou seja, um governo em representação do povo, para o desenvolvimento e elevação do povo – estão corroendo a credibilidade dos políticos e dos partidos.

Mas a livre expressão e pensamento de um movimento de cidadania global, está a emergir e a afirmar-se como uma forma alternativa de intervenção cívica e política, através dos grandes meios de comunicação livre, global, permanente e instantânea, como é o caso da internet, onde se criam e agigantam movimentos de opinião e de ação cívica em grandes redes globais, ao mesmo tempo que também nas ruas e praças do mundo inteiro crescem manifestações de posições cívicas e políticas, e na sociedade nascem ONGs com vasta capacidade de ação, clamando por direitos e justiça.

A cidadania planetária emergente defende cada vez mais causas sociais e o planeta, exige intervenções extra-partidárias, e afirma a desvalorização da exclusividade da entrega total dos assuntos políticos aos partidos que, assim, vão perdendo a sua antiga importância, bem visível nos altos índices de absentismo que crecem em todo o mundo, e na cada vez maior pressão que vão sentindo da parte das manifestações da livre cidadania organizada. Como o prestigiado investigador politólogo Peter Meyer tem vindo a afirmar nos seus ensaios, aproxima-se uma nova era de cidadania em que a política não mais será exclusiva dos partidos e a pressão da sociedade está a abrir caminho a formas alternativas de participação dos cidadãos na governação dos estados e das cidades.

A degradação da política, que por definição deverá ser uma atividade nobre de serviço às causas públicas, tem vindo a acentuar-se por demérito dos maus políticos e pela ávida ambição de conquista do poder dos partidos, ambição perseguida, muitas vezes, em detrimento dos interesses públicos nacionais, de tal modo que somos levados a afirmar que, nestes tempos tão problemáticos, a política passou a ser uma atividade demasiado séria para ser deixada apenas aos políticos!

Devemos condenar e combater, sem medo de melindrar grupos ou corporações de interesses, a incompetência, a falsidade, o desleixo, a corrupção, verdadeiros inimigos da democracia e dos Valores do Republicanismo, vírus mortais que podem adiar as grandes soluções para se alcançar a plenitude do respeito absoluto pelos Direitos Humanos e pela defesa da biodiversidade da vida do Planeta. A continuação por muito mais tempo das caducas teses e modelos deste capitalismo que não se preocupa com interesses públicos, apenas alimenta interesses privados, continua a abrir caminho ao regresso de todos os desequilíbrios sociais e de desgovernação o que, comprovadamente, conduz às degenerescências revoltantes das ditaduras dos capitalismos financeiros selvagens, que entronizam o mercado sem regras como um Novo Deus amoral e causam também a corrupção generalizada, mãe de todos os abusos de poder, de todas as impunidades e de toda a violência e caos social.
Um dos mais importantes escritores de língua portuguesa - EÇA DE QUEIROZ (1845-1900) – já dizia, sabiamente:
" Os políticos são como as fraldas...devem ser mudados com frequência...pelas mesmas razões !!!
Carlos Morais dos Santos 

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