quinta-feira, 8 de março de 2012

CARLOS MORAIS DOS SANTOS NO POEMA , "PESSOAS SEM ABRIL", A INCLUIR NO SEU PRÓXIMO LIVRO, CRITICA OS POLÍTICOS, ESPECULADORES E A CORRUPÇÃO COMO RESPONSÁVEIS PELA "CRISE" E POR NÃO SE CUMPRIR PORTUGAL, COMO RECLAMAVA FERNANDO PESSOA

PESSOAS SEM ABRIL

...”SENHOR, FALTA CUMPRIE PORTUGAL” (*)

Portugal vai comemorar no próximo dia 25 de Abril, a Revolução de 25 de Abril de 1974 - A esperançosa Revolução dos cravos que assinalava o seu regresso à democracia e ao desenvolvimento. Mas, 38 anos depois, o que “celebrou”, no ano passado, foi a imposição de um severo e punitivo programa de governo, imposto por entidades externas, uma designada Troyka, composta de Altos Funcionários Especialistas do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do FMI - Fundo Monetário Internacional, para "salvar" Portugal da "banca-rota".

Portugal continua sendo uma "DESGRÉCIA"
Há quase 200 anos que assim tem sido.
Será preciso esvaziar Portugal dos políticos e governantes portugueses e substitui-los como no futebol, por governantes treinadores alemães, suecos, dinamarques, ou suiços?
ou entregar o governo ao Mourinho ?  

Décadas de desgovernação, incompetência e muita corrupção, levaram Portugal a acumular uma monstruosa dívida pública e privada que, agora, vão ter de ser pagas, com juros especulativos, a duras penas, pelo povo trabalhador, incluindo mesmo os que já haviam adquirido o direito à suas aposentadorias, todos vergados ao peso de violentos aumentos de impostos e redução de salários e de serviços sociais, apesar de, desde 1986 (há 26 anos), data da adesão de Portugal á União Europeia (então designada C.E.E.), Portugal ter recebido colossais verbas de auxílio para que promovesse o seu Desenvolvimento Económico e Social, em termos de atingir uma coesão ao nível da média dos países desenvolvidos da UE. 

Esta é uma situação vergonhosa e humilhante, que está provocando um alto nível de desemprego, sobretudo nos jovens, apesar de, em grande parte, estes se terem qualificado com formação universitária superior, mas que se vêm agora "obrigados" a reabrir novamente o indesejado e estigmatizante movimento emigratório para outros países.  A classe média está a diminuir, contribuindo para aumentar o nível de pobreza que seria expectável já tivesse, entretanto, sido erradicada.

Apesar do enorme desenvolvimento em modernização de infra-estruras (estradas, saneamento, telecomunicações, saúde, educação, ciência e tecnologia, etc.), apresentando hoje Portugal um aparente perfil de país moderno, a economia portuguesa não tem crescido a um ritmo que alimente os custos dessa modernização, em grande parte porque o setor empresarial mais importante como motor de uma economia sustentada - as PMEs - não foram, durante muito tempo, estratégicamente apoiadas, quando se sabe que reside nas PMEs de qualquer economia moderna a mais dinâmica capacidade de criação de riqueza e de emprego. 

Ao invés, foi-se favorecendo os grandes grupos empresariais nacionais e multinacionais, sobretudo o setor financeiro, que beneficia de proteções e isenções fiscais absolutamente escandalosas, não tendo a produção de bens transacionáveis, que são mais riadores de riqueza e de potencial exportador e de substituição de importações, sido apoiada, a não ser nos casos de grandes empresas, corporações ou oligopólios. 

Por outro lado, no plano político-económico, o desvario de sangramento dos recursos financeiros dirigidos para um despesismo acima das próprias receitas, tem sido desviado em parte escadalosa, para empanturrar as clientelas partidárias e favorecer a multiplicação rápida de novas fortunas ilegítimas dos "afilhados" dos partidos (muitos ex-políticos, deputados, ministros, autarcas, altos funcionários partidários, etc.) que, como “novos ricos” se vão banqueteando nos absurdamente numerosos "Conselhos de Administração", com altíssimos e obscenos salários e prémios, além de mordomias inadmissíveis, mesmo quando essas empresas públicas apresentam prejuízos crónicos.

Esta miopia imoral, vem alimentando uma imensa classe de parasitas gananciosos, em muitos casos sem serem possuidores de qualificações profissionais e, esta ciranda  das alternâncias da desgovernação, que três partidos vão partilhando, levou à criação de numerosas e desnecessárias empresas públicas, Fundações, Institutos, nacionais, regionais e autárquicos, cujas funções ou são puras inutilidades, ou são meras duplicações  de serviços que tradicionalmente, antes, sempre couberam serem exercidos pelos serviços públicos dos ministérios onde abundam técnicos competentes e experientes e foram despudorosamente “inventadas” para satisfazer essa cada vez mais numerosa e voraz alcateia de lobos que tomaram conta da política do país. 

A política e o próprio estado foram apropriados pelos altos interesses financeiros nacionais e, principalmente, multinacionais, que vão garantindo regalias e boas posições aos políticos, e estes, passaram a servir mais os interesses privados do que os interesses públicos. O exercício da política como nobre serviço a favor da Rés-Pública e da Pólis, foi canibalizado pelos arrivistas da política, para dar lugar aos interesses pessoais e partidários, em que a conquista do poder é o fim que justifica todos os meios para se alcançar os maiores benefícios egoistas.

É neste quadro de dissolução de Valores e Princípios Éticos, Morais e Patrióticos, e de destruição deliberada dos ideais que a Revolução de 25 de Abril de 1974 prometia, que cresce a multidão dos humilhados e ofendidos que, após 38 anos, se vêm confrontados com o desemprego e o empobrecimento num Portugal que continua por cumprir. 

Este texto e o meu poema, que abaixo transcrevo, é mais um dos meus muitos gritos de revolta e de protesto – em activismo cívico, em palestras, em artigos, em intervenções e participações em movimentos cívico-político, em ensaios, com larga parte publicados na internet – um grito que ecoa dentro de mim próprio, já numa situação de “desespero de cuasa”, e que me fere talvez ainda mais os sentidos, por eu pertencer a uma geração que tudo sacrificou e arriscou (a liberdade e a vida) para que Abril se cumprisse e, por via dessa revolução romântica, se cumprisse, enfim, Um Novo Portugal, mais justo, mais desenvolvido para todos os portugueses e não apenas para a nova classe de "políticos de rapina", que desprezam Portugal e os portugueses, e até envergonham aqueles outros competentes, honestos e nobres políticos que ainda resistem e que, por serem raros, são facilmente "deglutidos" e marginalizados pelas alcateias insaciáveis dos lobos do poder.
(*) In "MENSAGEM" -  2ª. PARTE – "O MAR PORTUGUÊS" – POEMA "O INFANTE", 
DE FERNANDO PESSSOA:

(*) O Infante
 
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português,
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal !

        
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa, Acrílico de José Manuel Rosa





Fernando Pessoa
pintado por Almada Negreiros


        PESSOAS SEM ABRIL

Já a minha débil pessoa declinando vai
Mas com Pessoa hei-de permanecer
Até ao último sopro, meu derradeiro "Ai"
Respirarei Pessoa até me desvanecer

Ele me eleva como pessoa, é meu alimento
Dele, como e bebo palavras, essência do SER
Com ele aprendi a sublimar o sofrimento
Que a mediocridade arrogante pode fazer

De meus devaneios, sonhos e vãs esperanças
Do meu acreditar nos homens e sua redenção
Ficaram das decepções amargas lembranças
Por que faliu o humanismo e o triunfo da razão

E se mais Pessoas houvera nele em Pessoa
Para falar de coisas belas e de justos ideais
Mesmo agora que seu génio e estro mais ecoa
Há mais pessoas a se nutrirem de pecados venais

A minha pessoa não se corrompe de indiferença
Enquanto me alimento de Pessoa e bebo da poesia
de Torga, de Natália, de Sofia, e sinto a presença
De Camões, de Régio e de Almada, terei a energia

Se minha pessoa declina, se desvanece e sofre à toa
Porque se esgota a minha esperança, mas não o ideal
De vir a ser verdade a Pátria de Camões e de Pessoa
E de finalmente ser cumprido esse desejado Portugal

Oh! meus 39 anos de ditadura mas de viva esperança
Pesam-me agora 38 de medíocre e injusta democracia
Que o adágio que diz que "quem espera sempre alcança"
Morre na garganta do povo pobre que não viu o Novo Dia

"Oh! sub-alimentados do espírito" clamava Natália, infeliz;
"A poesia é para se comer"!  Regada a bom vinho cultural.
"Pergunto ao Vento que passa, notícias do meu país",
canta Alegre. Não se cumpriu Abril nem ainda Portugal!

Mas onde está essa pátria amada feita de Fraternidade?
Onde a liberdade e a democracia seja mais que formal
Onde o pão da boca e do espírito alimente com equidade
E não empanturre de indigestão os vampiros de Portugal !

Oh! sedentos de poder, sem SER, gananciosos de capital
Ouçam os poetas e a maioria silenciosa que sofre carências
Oh gananciosos corruptos que desvirtuaram o Abril Ideal
Bebam mais de Pessoa e de outros. Políticos de indecências!

Oh! pessoazinhas arrogantes, da baixa política trapaceira
Oh! pessoas pequeninas, medíocres, egoístas, sem ideal
Oh! profissionais dos partidos de estar na vida matreira
Oh! estadistas que só promovem o vosso poder pessoal

Ocupem-se a cumprir Portugal como reclamava Pessoa !
Portugal não é pobrezinho, vocês é que são pequenotes.
Dos Grandes é que reza a história e, de vocês, de alma vazia,
ficará o clamor do povo, a voz da pátria magoada que ecoa!
Portugal seria bem rico se governassem sem tantos desnortes

Acreditem, senhores, nos poetas patriotas e nas lições de poesia !
Pois vossos erros, desgovernos, ganâncias e egoísmos fortes
Serão as pequenezas e vilezas que lembraremos sem nostalgia.
O 25 d`Abril fez-se não para vós, mas para o povo de más sortes  
A quem ainda não chegaram os cravos de Abril, a flor da alegria



Carlos Morais dos Santos
Professor Universitário de MBA/Mestrado
Consultor em Desenvolvimento Estratégico Sustentado

  • Escritor, ensaísta, poeta, fotógrafo
  • Membro da Academia Portuguesa de Letras Artes e Ciências
  • Membro da Sociedade (Portuguesa) de Geografia de Lisboa
  • Membro da Sociedade Portuguesa de Estudos do Séc. XVIII
  • Membro da Liga Portuguesa dos Direitos Humanos-Civitas
  • Membro do Tribunal Internacional sobre a Invasão do Iraque - Audiência Portuguesa
  • Membro da AVAAZ Internacional, organização mundial independente 
  • a favor da Paz,(mais de 13 milhões de membros) contra as agressões
  • aos Direitos Humanos colóicos, apoia as vitimas de injustivas e violências
  • Membro do Conselho Superior Português de Étíca e Responsabilidade Social 
  • Membro do IHG-RN-Instituto Histórico Geográfico do RN,Brasil
  • Membro do Conselho Consultivo da UBE-RN-União Brasileira de Escritores
  • Membro da SPVA-Soiedade dos Poetas Livres e AfinsRN-Brasil
  • Cônsul da Sociedade Internacional  "Poetas Del Mundo"

1 comentário:

  1. Combalido Seareiro: Bem haja!
    Todos nós que amamos Portugal, não conseguimos enxergar essa bela Pátria de rastros, principalmente ao nos lembrarmos das priscas eras gloriosas quando dominou o mundo, no bom sentido, claro, descobrindo terras além-mar.
    É muito triste constatar que o bravo povo português é obrigado a ficar inerte diante de tantos desmandos e, pior ainda, da impunidade dos verdadeiros culpados dessa outrora inimaginável derrocada.
    Fernando Pessoa, tão bem estudado pela sapiência, grande empenho e sensibilidade demonstradas nas suas sempre brilhantes e concorridas palestras, certamente, de onde estiver, constata que ainda... falta cumprir-se Portugal...
    O povo deveria exigir apuração das supostas irregularidades cometidas pelos (des)governantes e seus asseclas, acabando com os altos salários e as mordomias descabidas, obrigando-os a devolver toda a dinheirama de que se locupletam, deixando esse mesmo povo quase na miséria. O mundo ainda teve de assistir a vergonhosa declaração daquele que deveria dar o exemplo e se solidarizar com seus governados, o presidente da República, reclamando publicamente que não pode viver com os milhares de Euros que recebe pela sua (des)função.
    Muito triste tudo isso! Que Deus tenha pena do bravo povo português, e devolva-lhe a digna sobrevivência.
    Solidário abraço do Lince da Malcata

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