Já a minha débil pessoa declinando vai
Mas com Pessoa hei-de permanecer
Até ao último sopro, meu derradeiro Ai
Respirarei Pessoa até me desvanecer
Ele me eleva como pessoa, é meu alimento
Dele, como e bebo palavras, essência do SER
Com ele aprendi a sublimar o sofrimento
Que a mediocridade arrogante pode fazer
De meus devaneios, sonhos e vãs esperanças
Do meu acreditar nos homens e sua redenção
Ficaram das decepções amargas lembranças
Por que faliu o humanismo e o triunfo da razão
E se mais Pessoas houvera nele em Pessoa
Para falar de coisas belas e de justos ideais
Mesmo agora que seu génio e estro mais ecoa
Há mais pessoas a se nutrirem de pecados venais
A minha pessoa não se corrompe de indiferença
Enquanto me alimento de Pessoa e bebo da poesia
de Torga, de Natália, de Sofia, e sinto a presença
De Camões, de Régio e de Almada, terei a energia
Se minha pessoa declina, se desvanece e sofre à toa
Porque se esgota a minha esperança, mas não o ideal
De vir a ser verdade a Pátria de Camões e de Pessoa
E de finalmente ser cumprido esse desejado Portugal
Oh meus 38 anos de ditadura mas de viva esperança
Pesam-me agora 36 de medíocre e injusta democracia
Que o adágio que diz que quem espera sempre alcança
Morre na garganta do povo pobre que não viu o Novo Dia
Oh, sub-alimentados do espírito clamava Natália, infeliz
A poesia é para se comer, regada a bom vinho cultural
Pergunto ao Vento que passa, notícias do meu país,
Canta Alegre. Não se cumpriu Abril nem ainda Portugal
Mas onde está essa pátria amada feita de Fraternidade
Onde a liberdade e a democracia seja mais que formal
Onde o pão da boca e do espírito alimente com equidade
E não empanturre de indigestão os vampiros de Portugal
Oh sedentos de poder, sem SER, gananciosos de capital
Ouçam os poetas e a maioria silenciosa que sofre carências
Oh gananciosos corruptos que desvirtuaram o Abril Ideal
Bebam mais de Pessoa e de outros. Políticos de indecências
Oh pessoazinhas arrogantes, da baixa política trapaceira
Oh pessoas pequeninas, medíocres, egoístas, sem ideal
Oh profissionais dos partidos de estar na vida matreira
Oh estadistas que só promovem o vosso poder pessoal
Ocupem-se a cumprir Portugal como reclamava Pessoa
Portugal não é pobrezinho, vocês é que são pequenotes
Dos Grandes é que reza a história e de vocês de alma vazia
ficará o clamor do povo, a voz da pátria magoada que ecoa
Portugal seria bem rico se governassem sem tantos desnortes
Acreditem, senhores, nos poetas patriotas e nas lições de poesia
Pois vossos erros, desgovernos, ganâncias e egoísmos fortes
Serão as pequenezas e vilezas que lembraremos sem nostalgia.
O 25 d`Abril fez-se não para vós, mas para o povo de más sortes
A quem ainda não chegaram os cravos de Abril, a flor da alegria
Carlos Morais dos Santos
Cônsul da Assoc. Internacional Poetas Del Mundo
Escritor, ensaísta, poeta, fotógrafo
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